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Tatuadoras criam estúdio especializado em cobrir cicatrizes

Tatuadoras criam estúdio especializado em cobrir cicatrizes


Raquel Gauthier e a esposa, Margarita Sultanova, contam como conseguiram definir um preço justo para o trabalho e evitar o burnout
Especializadas em cobrir cicatrizes e ressignificar histórias, Raquel Gauthier, 28, e Margarita Sultanova, 35, transformaram a tatuagem em uma profissão afetiva e hoje são os nomes por trás do estúdio Sobre Essa Pele, em São Paulo. O trabalho das duas atrai clientes de várias partes do país e até do exterior, que desembolsam valores que elas, atualmente, consideram justos pelo que oferecem.
Nem sempre a história foi assim. As tatuadoras só conseguiram adotar preços compatíveis com a jornada que cumprem e o serviço que oferecem depois de sentirem sinais físicos de esgotamento e terem uma fila de espera para meses à frente, obrigando-as a pausar os agendamentos.
“O cansaço, as dores no corpo, o tempo dedicado a cada tatuagem – maior que uma tradicional – e o valor muito barato que era cobrado foram determinantes para mudar a forma de trabalho. Percebi que a demanda só aumentava e que o meu trabalho era raro, com um impacto único. Agora, sei o valor que ele tem e consigo viver de forma mais saudável e equilibrada”, pontua Gauthier.
Gauthier começou a tatuar em 2017, no improviso de um quarto na casa dos pais, em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Com desenvolvimento autodidata na tatuagem, teve a curiosidade despertada a partir de um curso de micropigmentação de sobrancelhas. Quis testar a tinta na própria pele e se autotatuou.
A partir daí, focou em vídeos e cursos online e muita prática para aperfeiçoar a técnica, cobrando apenas o custo do material, inicialmente. Foi quando começou a cobrir cicatrizes e se encontrou na profissão. Ainda assim, os valores praticados ficavam aquém da exclusividade e do tempo exigido.
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“Definir o preço sempre foi um desafio, porque envolve anos de estudo e responsabilidade. No começo, eu tinha dificuldade até em pedir um sinal, mas percebi que valorizar o meu trabalho era essencial para mim e para as clientes”, continua Gauthier.
Já a entrada de Sultanova no universo das tatuagens aconteceu em 2021. Nascida na Rússia, ela se mudou para o Brasil em 2020, após se casar com Raquel. Antes, comandava um restaurante no México com a irmã, mas seu lado artístico sempre esteve presente.
No começo, apenas auxiliava na parte administrativa e nas redes sociais do estúdio, até que decidiu aprender a tatuar e se tornou pupila da esposa. “Admiro muito o impacto emocional que o nosso trabalho tem nas clientes. É gratificante saber que fazemos parte de uma transformação tão significativa”, comenta.
Trabalho individualizado
O diferencial do trabalho das duas está nos traços delicados, na personalização de cada arte e no acolhimento emocional. Com raras exceções, as clientes – quase todas mulheres – buscam cobrir cicatrizes, o que demanda uma abordagem técnica e sensível. “Cada cicatriz carrega uma história e nosso papel é ajudar a transformá-la em algo positivo”, compartilha Gauthier.
A logística começa com uma consulta, presencial ou online, que custa R$ 400 se a intenção for tatuar com Gauthier e R$ 200, com Sultanova. O valor é descontado do total a ser pago após o trabalho, caso a cliente opte pelo serviço.
Essa, aliás, foi uma das estratégias que adotaram para equilibrar o fluxo, já que despendiam horas para elaborar um orçamento, considerando as características individuais de cada cicatriz e das artes a serem desenvolvidas, sendo que muitas pessoas solicitavam uma estimativa apenas por curiosidade.
“A consulta trouxe respeito pelo nosso tempo. Quem paga reconhece e valoriza a nossa dedicação. Também ajuda a filtrar as pessoas que realmente querem investir na tatuagem”, comenta Gauthier.
Os preços praticados pelo estúdio variam de acordo com o tempo necessário para o atendimento e as características das cicatrizes. Uma arte sobre cicatriz de abdominoplastia pode custar de R$ 3 mil a R$ 6 mil, com duração de duas a quatro sessões. Já uma tatuagem sobre queimaduras pode levar até cinco sessões, com valores de R$ 2 mil a R$ 7 mil.
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“É preciso ter conhecimento sobre o tipo de cicatriz, como cada uma reage à tinta. Algumas inflamam, outras ficam roxas, outras são muito finas. Precisamos entender isso para não estourar no traço”, diz a empreendedora. Para a execução da arte, o material usado é o mesmo de uma tatuagem tradicional. “Mas usamos compressas frias durante as sessões e alguns produtos calmantes, já que algumas inflamam mais do que outras.”
O casal começou a tatuar em estúdios montados em casa, primeiramente no Bom Retiro, na região central de São Paulo e, depois, no Tremembé, na zona norte. Desde 2022, cada uma tem seu próprio espaço, atualmente em um prédio comercial da Avenida Paulista. Apesar de instaladas em salas distintas, ambas atendem sob o guarda-chuva da empresa Sobre Essa Pele.
“A opção de cada uma ter o seu espaço é para que pudéssemos explorar mais nossa individualidade, já que fazíamos tudo juntas desde que nos conhecemos. Achamos que seria melhor para o casal, pessoal e profissionalmente”, acrescenta Sultanova.
Ganhos e qualidade de vida melhores
Para as tatuadoras, a adequação de valores trouxe muito mais do que possibilidades financeiras: proporcionou um estilo de vida mais saudável e tranquilo.
“Antes, sofríamos com dores nas costas por passar horas tatuando, muitas vezes ultrapassando nossos limites. Agora, temos qualidade de vida, tempo de qualidade juntas, momentos para curtirmos como casal e não viver só para o trabalho”, comemora Gauthier, que revela sempre ter tido conexão forte com o empreendedorismo, muito por conta da influência do pai.
Elas não abrem o faturamento, mas esperam aumentar os ganhos em 25% neste ano, além de expandir os serviços do estúdio. Querem ampliar a presença nacional e, principalmente, internacional, com o aumento de clientes de fora – já atraíram gente de Portugal, Alemanha e Canadá para os estúdios paulistas e foram a Dubai a convite de uma cliente, que arcou com todas as despesas para que a tatuagem fosse realizada nela.
“Nosso desejo é mostrar que o trabalho com cicatrizes é universal, que histórias podem ser ressignificadas em qualquer cultura”, diz Sultanova. Ter ajustado os preços praticados foi o pontapé que precisavam para a sonhada expansão. “Não tem como crescer no trabalho sem reconhecer e valorizar mais o que fazemos. Uma coisa puxa a outra”, finaliza Gauthier.
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