‘Tarifaço’ de Trump gera incertezas para pequenas empresas, mas também abre oportunidades
O presidente dos Estados Unidos anunciou uma taxa de 10% para os produtos brasileiros. Em 2024, o Brasil registrou 11.432 micro e pequenas empresas exportadoras, representando 40% do total O “tarifaço” global sobre importações, anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump na quarta-feira (2/4), impôs tarifas recíprocas a países que cobram taxas de importação sobre produtos americanos e foi nomeada pelo republicano como o “Dia de Libertação”. O mandatário anunciou uma tarifa de 10% para os produtos brasileiros, enquanto outros locais receberam tarifas mais elevadas, como 20% sobre a União Europeia, 34% sobre a China e 46% sobre o Vietnã.
Embora ainda não seja possível dimensionar os impactos de longo prazo e suas consequências econômicas e geopolíticas, especialistas consultados pela PEGN apontam um cenário de oportunidades para as empresas brasileiras, mas que também virá acompanhado de desafios.
“De maneira geral, o Brasil está bem posicionado. Apesar de a tarifa de 10% ser alta, fomos relativamente menos afetados e existem oportunidades para empresas brasileiras exportarem para os EUA. Com o real desvalorizado em relação ao dólar, os produtos brasileiros se tornam mais atraentes para o mercado americano”, diz Diego Marconatto, professor de empresas de alto crescimento da Fundação Dom Cabral (FDC).
O docente não vê um impacto direto na exportação das pequenas empresas no momento, já que são relativamente poucos negócios desse porte que internacionalizaram sua produção.
Em 2024, o Brasil registrou 11.432 micro e pequenas empresas exportadoras, representando 40% do total, segundo a publicação “Exportação e Importação por Porte Fiscal das Empresas”, da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX/MDIC). No entanto, essas companhias movimentaram US$ 2,6 bilhões em exportações, correspondendo a apenas 0,8% do valor total das vendas externas brasileiras. A América do Sul foi o destino mais frequentes das exportações das micro e pequenas empresas, com 28,3% das operações, seguida pela América do Norte (24,6%) e pela Europa (18,7%).
A tarifa mais baixa ao Brasil pode tornar o país um parceiro comercial interessante para outros players globais — com muitos países deixando de priorizar os EUA e buscando outros mercados, afirma Carlos Honorato, economista e professor da FIA Business School. “Empresas que antes vendiam para os Estados Unidos podem redirecionar sua atenção ao Brasil, tanto para vender seus produtos quanto para serem consumidores de itens brasileiros. Podemos esperar uma reorganização nas estruturas econômicas globais”, diz.
Na visão dos especialistas, o Brasil tem bastante espaço para crescer. “Somos o quinto maior país do mundo, mas, em 2024, ocupamos apenas a 24ª posição no ranking de exportadores”, diz João Alfredo Lopes Nyegray, professor do curso de Negócios Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Em sua visão, o momento é de fomentar uma cultura exportadora no Brasil, como na semana passada, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve no Japão e no Vietnã, abrindo mercados para produtos brasileiros.
“Acredito que essa será uma tendência daqui para frente. Em toda crise, as empresas mais resilientes são aquelas que se internacionalizam e diversificam suas fontes de receita globalmente. Quando pequenas empresas se engajam no comércio internacional, tornam-se mais resistentes tanto a crises do mercado interno quanto à dependência de um único país”, afirma Nyegray.
Ainda que o cenário represente oportunidades, as empresas devem ficar atentas aos possíveis impactos negativos, como o aumento de custos para negócios que dependem de insumos dos EUA, afetando principalmente pequenas e médias empresas.
“Basicamente, o objetivo do ‘tarifaço’ é encarecer os insumos internacionais e incentivar a indústria americana a produzir mais internamente. No entanto, os EUA têm um custo de produção muito elevado, tornando significativamente mais caro fabricar no país do que na Índia ou na China. Isso representa um grande desafio para que a produção doméstica consiga suprir toda a demanda interna”, explica Honorato, que prevê um aumento no preço dos produtos vindos dos EUA.
Saiba mais
Já Marconatto lembra que muitas pequenas empresas fazem parte da cadeia produtiva de médias empresas que negociam diretamente com os EUA, e podem sentir seus efeitos. “Se essas médias empresas reduzirem suas exportações, terão menor volume de negócios e afetarão toda a cadeia produtiva”, afirma o professor. “As pequenas empresas também podem sentir o aumento da concorrência interna no território brasileiro com mais países vendendo seus produtos para cá.”
Para Honorato, o momento é de calma para entender como as empresas podem se beneficiar. “Os empreendedores têm a vantagem de estarem acostumados com o caos e as oscilações do mercado. É preciso analisar a situação com cautela, estudar o cenário, conversar com clientes no exterior e manter uma visão estratégica. O potencial é grande, e veremos como ele se desenvolverá no futuro.”
* O conteúdo foi alterado às 16:13 para corrigir os dados que o MDIC havia informado anteriormente sobre empresas exportadoras.
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