Só bacalhau na Páscoa? Conheça pratos típicos servidos no feriado em restaurantes de cada região brasileira
Empreendedores de todo o país apostam na valorização de pratos à base de peixes e frutos do mar para atrair mais clientes durante o período. 71% dos empresários esperam aumento de vendas Do tambaqui assado na brasa à moqueca baiana, a mesa da Páscoa no Brasil revela um verdadeiro retrato da diversidade cultural do país. Em cada região, receitas típicas ganham releituras nos cardápios de restaurantes, que apostam em ingredientes locais para celebrar a data e faturar mais neste período. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), 71% dos empresários esperam aumentar o faturamento durante o feriado prolongado de abril, em comparação com a Semana Santa do ano passado. Para 40% dos entrevistados, o incremento deve variar entre 5% e 20%.
O período é marcado pelo maior consumo de pescados e frutos do mar. Zenir Dalla Costa, coordenadora de Tecnologia em Gastronomia do Centro Universitário Senac – Santo Amaro, explica que a escolha de não comer carne nos dias que antecedem a Páscoa sofre influências da religiosidade, especialmente do cristianismo.
“No caso da Semana Santa, o contexto religioso determina os alimentos consumidos e os preparos adotados pelas famílias mais religiosas ou tradicionais. A orientação de evitar carnes vermelhas e o jejum em alguns dias levam famílias e comunidades a resgatar receitas à base de peixe, ovos, legumes e grãos”, diz.
A chef e pesquisadora Nanda Crioula aponta que esse hábito vai se manifestar de formas diferentes nas refeições e incorporar elementos culturais de cada região. Embora haja a prevalência do consumo de peixe, as receitas são adaptadas e ganham novas características e sabores, por exemplo.
“A gastronomia brasileira envolve a discussão de influências de diversas etnias. Precisamos entender a dimensão cultural e extensão territorial porque tudo isso acaba refletindo nas tradições. São Paulo, por exemplo, é uma metrópole que possui muitas contribuições de outros estados. A Bahia tem forte influência dos povos africanos”, pontua.
Quanto à valorização desses pratos nos restaurantes, o professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e doutor em administração, Ricardo Pastore, diz que a estratégia gera maior atratividade para o negócio, pois possibilita a conexão com os clientes. Contudo, ele alerta para a necessidade de capacitação e inovação no serviço, visando a influência de novas modalidades e tecnologias. “A cultura gastronômica faz parte de uma região e agrega valor, mas os empreendedores precisam estar atentos ao momento em que estamos vivendo”, afirma.
Confira os pratos locais que são servidos em diversos estados do Brasil:
Região Norte
Os peixes nativos da região seguem sendo protagonistas nas refeições nesse período, como o pirarucu, filhote, tambaqui, entre outros. A tradição tem origem na cultura dos povos originários, segundo a chef e pesquisadora Nanda Crioula.
Amapá
Em Macapá, o restaurante Amazonas Peixaria oferece opções de pratos que incluem peixes e frutos do mar, entre eles estão pirarucu, filhote, camarão, jambu e tucupi. Segundo Andreo Bastos, CEO da empresa, o período é marcado pela valorização da culinária regional, que inclui a oferta dos pescados empanados e assados.
“Alguns produtos típicos do Amapá ganham ainda mais destaque no nosso cardápio. Por ser um restaurante com uma pegada ribeirinha e indígena amazônica, então um exemplo é o filhote, peixe muito apreciado por aqui”, diz ele, projetando o aumento de 16% no mês.
Prato do Amazonas Peixaria
Divulgação
Amazonas
Assim como o Amapá, o Amazonas também destaca a culinária local, refletindo na demanda por pratos com o jaraqui e a tradicional banda de tambaqui grelhada na brasa. Sidnei Dutra, administrador e sócio-diretor do Grupo Engenho, diz que a banda de tambaqui é um dos sucessos do restaurante Sagrado Peixe, focado em gastronomia regional. Localizado em Manaus, o estabelecimento oferece ainda opções de bolinho de pirarucu e pratos com o pacu.
“Então, temos o jaraqui, que é um peixinho local, a sardinha, o pacu, o bolinho de pirarucu e a banda de tambaqui, que é a assinatura da região. A banda de tambaqui serve até 10 pessoas”, diz.
Caldeirada do Sagrado Peixe (a partir de R$ 99)
Divulgação
Além dos peixes amazônicos, no Amazonas também é comum o consumo de pratos de bacalhau, assim como em outros estados do Brasil, devido à influência portuguesa. Com seis restaurantes na capital manauara e um em Belém, o grupo projeta um incremento entre 20% e 30% no faturamento.
Já Iolane Machado, proprietária do Vumbora Culinária Amazônica — localizado em Manaus –, destaca o sucesso da caldeirada de tambaqui como os pratos mais buscados pelos clientes nesse período. A iguaria, que acompanha arroz branco e pirão do caldo do próprio peixe, custa R$ 95 e serve até três pessoas.
Rondônia
Em Rondônia, a preferência pelo tambaqui de banda assado é um dos destaques no restaurante Arigó, localizado em Porto Velho. De acordo com a chef Mariana Holanda, que é sócia gerente do estabelecimento, o tambaqui também pode ser recheado com farofa e assado, além de outras opções como pirarucu de casaca, o bobo de tambaqui e moqueca de pirarucu. O Arigó funciona com buffet livre, custando R$ 99 por cliente.
Tocantins
Para Rafael Henrique Holzbach, sócio-administrador do restaurante Choupana do Lago, a Páscoa é uma das datas mais importantes em termos de faturamento. “Durante o período, observamos um acréscimo médio de 50% a 75% nas vendas, impulsionado pela alta procura por pratos à base de peixe, muito valorizados durante a Semana Santa e a Quaresma”, afirma.
No restaurante, localizado na Orla da Praia da Graciosa, em Palmas, a culinária amazônica e regional se destaca na oferta dos pratos disponíveis no cardápio: tucunaré tocantinense e o filé de pirarucu ao molho de camarão, que custam entre R$ 69 e R$ 75 por cliente.
Prato tucunaré tocantinense do Choupana do Lago
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Região Nordeste
A região apresenta uma diversidade de pratos em cada estado: coco, dendê, abóbora, mandioca, feijão, entre outros. De acordo com a chef e pesquisadora Nanda Crioula, os pratos costumam valorizar os alimentos e preparos locais.
Alagoas
Em Alagoas, o restaurante Sabor de Mainha oferece um cardápio variado, que inclui opções regionais como a fritada de sururu e massunim (mariscos típicos da culinária local) e peixada no coco. Segundo a proprietária Rejane Pessoa, as porções custam a partir de R$ 20, além do self-service disponível no estabelecimento. Diante do potencial de movimento no período, ela espera o aumento de 50% no faturamento do restaurante.
Bahia
A influência afro-brasileira é presente na culinária baiana e, na Páscoa, não é diferente. A tradição do consumo de peixes é acompanhada pelo vatapá, caruru e feijão fradinho. Os pratos são compostos por ingredientes como camarão seco, castanha, leite de coco, quiabo e dendê.
Localizado em Santo Antônio de Jesus, no recôncavo baiano, o restaurante Oásis D’Moura trabalha com opções de moquecas de camarão, que custam R$ 199 e servem duas pessoas. O chef Álvaro Moura estima um aumento de 18% no faturamento, mas ressalta a maior demanda por meio do delivery do estabelecimento. Segundo ele, a data também é marcada pelas reuniões em família, especialmente no almoço da Sexta-feira Santa.
“Fizemos um estudo e começamos a inserir os pratos, fazendo a entrega por delivery. A partir disso, começamos a ter uma demanda maior dos clientes”, afirma.
Moqueca de camarão do Oásis D’Moura
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No restaurante Camafeu de Oxóssi, localizado no Mercado Modelo, ponto turístico de Salvador, a moqueca de camarão costuma se sobressair em relação aos outros pratos, atraindo a maioria dos clientes. A iguaria custa R$ 185 e serve duas pessoas.
Ceará
A peixada, a moqueca de tilápia e a malassada ganham destaque no restaurante Casa Malu, na cidade de Juazeiro do Norte (CE). Além disso, o cardápio oferece opções de peixe e frutos do mar para atender a demanda dos clientes. “São pratos que estão presentes nas casas do interior e também nos restaurantes, porque carregam afeto, tradição e sabor”, diz a sócia-proprietária Luciana Rodrigues.
Pernambuco
No estado, é comum o consumo de peixe assado na grelha, filé de pescada e até o bacalhau, além do quibebe (prato à base de abóbora). Pensando em unir a tradição com a proposta regional, o restaurante Moendo na Laje, localizado no Recife, investiu no lançamento de três pratos para a Páscoa deste ano: nhoque de banana da terra com camarões ao molho de moqueca (R$ 74), risoto de limão siciliano com filé de pescada amarela grelhada e farofa de pão de alho (R$ 68) e peixe empanado com quibebe (purê de abóbora com leite de coco) e maionese de batata assada (R$ 68).
“A Páscoa tem um impacto muito positivo no nosso faturamento, especialmente por ser um período em que o consumo de peixes e frutos do mar aumenta bastante, que é nossa especialidade”, afirma a sócia e chef executiva Duda Lopes.
Peixe com quibebe pernambucano e maionese de batata assada
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Região Centro-Oeste
Mato Grosso
Na Sexta-feira Santa, a demanda cresce por pratos à base dos peixes locais: pintado, matrinxã, cachara, pacu e piraputanga. Eles podem ser preparados e servidos assados na brasa, fritos e até cozidos em ensopados. Em Cuiabá, a mojica de pintado é uma das receitas populares, que ainda leva pedaços de mandioca.
Já na Páscoa, o consumo envolve pratos como o porco, carneiro e pernil assados. “É um momento de alegria e comemoração tanto no restaurante quanto nas casas das famílias”, diz a sócia do restaurante e peixaria Maria Isabel, Marilene Cavalcanti, que projeta um aumento de 15% no faturamento.
Mato Grosso do Sul
No estado, é comum o consumo de peixes empanados e ensopados nesse período. No restaurante Sabor em Ilhas, localizado na cidade de Campo Grande, o cardápio inclui opções regionais como o caldo de piranha, manjubinha crocante (aperitivo) e o pacu em ilhas (peixe assado com vinagrete cremoso), além de pratos com bacalhau, salmão e tilápia. “Estimamos um incremento de mais de 5% no faturamento em relação ao ano passado”, projeta Erika Ishikawa, empresária e chef de cozinha.
Pacu assado
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Assim como em outros estados, o bacalhau também costuma ser procurado pelos clientes nos restaurantes do MS. No Teté Bistrô, o destaque é o bacalhau ao forno, acompanhado de legumes salteados no azeite e assados.
Bacalhau ao forno do Teté Bistrô
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“É o nosso carro-chefe, nossos pratos são produzidos com a parte nobre do peixe, o lombo. O aumento no faturamento é bem significativo, em poucos dias aumenta uns 25%”, afirma Teté Rahe, proprietário e chef de cozinha.
Região Sudeste
A região se destaca pelo maior consumo do bacalhau e opções de filés de peixe. “É o ingrediente de referência para o feriado, presente em pratos como bacalhoada, bolinho de bacalhau e diversas receitas familiares passadas de geração em geração, com destaque para o bacalhau com banana-da-terra do Espírito Santo e o camarão com chuchu no Rio de Janeiro.
Minas Gerais
Em Minas, o consumo durante a Semana Santa é marcado pela busca de pratos com bacalhau e peixes, a exemplo da pescada amarela. Nos restaurantes Redentor e Moema, que ficam em Belo Horizonte, os clientes podem apreciar opções para quem evita carnes vermelhas nesse período. Segundo o proprietário Daniel Ribeiro, a estimativa é de 30% de aumento no faturamento.
Moqueca do Moema
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Também na capital mineira, a Casa Calixto aposta em pratos de bacalhau e frutos do mar. As opções incluem ainda risoto cremoso de polvo e camarão (R$ 114) e pescada amarela grelhada na brasa (R$ 140). Reginaldo Calixto, que é proprietário do restaurante, espera atingir um aumento de 20% no faturamento neste período.
Pescada amarela do Casa Calixto
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Rio de Janeiro
A bacalhoada é um dos pratos mais consumidos nesse período. Contudo, o estado possui diversos restaurantes com culinárias regionais.
São Paulo
Conhecida como a maior metrópole da América Latina, a pesquisadora Nanda Crioula aponta que São Paulo abriga diversas contribuições culturais de outros estados brasileiros e até países, que se refletem na gastronomia. Há espaço para opções que vão desde o bacalhau até pratos asiáticos, por exemplo.
Região Sul
A região possui três estados: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. De acordo com Zenir Dalla Costa, coordenadora de Tecnologia em Gastronomia do Centro Universitário Senac – Santo Amaro, o cardápio de Páscoa no Sul destaca o consumo de frutos do mar, arroz de mariscos, a tainha no litoral e peixes de água doce. “Refletindo fortemente a influência das culturas europeias na culinária local”, pontua.
Rio Grande do Sul
Bacalhau à Gomes de Sá do Gambrinus
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Na Semana Santa, no Rio Grande do Sul, é possível encontrar uma variedade de pratos com peixes e frutos do mar nos restaurantes. João Melo, proprietário do Gambrinus, restaurante mais antigo de Porto Alegre, diz que opções como congro, salmão e tilápia costumam ser apreciadas pelos clientes. “Trabalhamos com a tilápia, que é um prato que acaba tendo uma aceitação muito boa, é um peixe muito gostoso. Ele fica com preço interessante para o cliente”, diz.
Outra opção é o bacalhau, que dá sabor a entradas como bolinhos — só na Semana Santa, o restaurante vende cerca de 2 mil unidades — e pratos principais nesse período. No Gambrinus, a tilápia com molho de camarão está sendo vendida por R$ 99. Já os pratos de iscas do mesmo peixe à milanesa e com legumes custam R$ 59, respectivamente. O bacalhau à Gomes de Sá fica em torno de R$ 229 e serve duas pessoas. Além disso, há oferta do peixe linguado em pratos com camarão (R$ 229) e com alcaparras e champignon na manteiga (R$ 189).
Santa Catarina
Em Santa Catarina, também é comum o consumo de pratos com bacalhau, peixes em geral e frutos do mar, entre eles o camarão e ostra. Localizado em Florianópolis, o restaurante Na Canoa oferece opções de ceviche, ostras in natura e gratinadas e peixes grelhados. Os valores das refeições para duas pessoas ficam em torno de R$ 180 a R$ 200.
Ceviche de frutos do mar do Na Canoa, em Florianópolis
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“Na Semana Santa, principalmente na Sexta-feira Santa e no feriado de Páscoa, o pessoal procura uma alimentação mais baseada em pescado e temos uma procura bem grande”, relata o proprietário David Freitas.
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