Sebastião Salgado deixa legado na fotografia e no empreendedorismo socioambiental
Fotógrafo brasileiro, que morreu nesta sexta-feira, foi responsável, ao lado da esposa, por recuperar mais de 600 hectares da Mata Atlântica e fundar o Instituto Terra O mundo perdeu nesta sexta-feira (23/5) um dos maiores fotógrafos da história, e também um símbolo do ativismo ambiental. O brasileiro Sebastião Salgado faleceu aos 81 anos, em Paris, vítima de uma leucemia causada por uma complicação da malária, que ele havia contraído há 15 anos. Salgado deixa um legado que ultrapassa as imagens marcantes e registra profundamente a preservação da biodiversidade brasileira.
Nascido em Aimorés, no interior de Minas Gerais, ele formou-se em economia e seguiu carreira internacional na área. Entre 1971 e 1973, durante uma viagem para Angola e África do Sul, onde atuava como coordenador de um projeto sobre a cultura do café, pela Organização Mundial do Café, começou a fotografar como hobby. Daí foi um pulo: a paixão pelas imagens rapidamente se transformou em profissão.
Salgado se tornou fotógrafo profissional, integrando grandes agências internacionais como Gama, Sygma e Magnum Photos, e passou a documentar com sensibilidade e profundidade a realidade de diferentes países. Seu trabalho sempre foi marcado pelo compromisso social e pela valorização da dignidade humana, eternizada em séries como Êxodos, que retrata deslocamentos populacionais, e Trabalhadores, sobre a força do trabalho manual ao redor do mundo.
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Ao lado da esposa, Lélia Wanick, Salgado protagonizou um dos projetos mais importantes de restauração ambiental do país: a recuperação da Fazenda Bulcão, em Aimorés (MG), propriedade da família há gerações. A partir de 1998, o casal liderou o reflorestamento de cerca de 600 hectares de Mata Atlântica, com o plantio de aproximadamente 2,7 milhões de árvores. A área, antes degradada, transformou-se em um refúgio para centenas de espécies nativas, muitas delas ameaçadas de extinção.
No Facebook, o fotógrafo divulgou uma montagem que mostra a restauração florestal na propriedade da família
Facebook – Sebastião Salgado
A iniciativa deu origem ao Instituto Terra, ONG fundada pelo casal, dedicada à restauração ecossistêmica da região e à promoção do desenvolvimento rural sustentável nas margens da Bacia do Rio Doce. A Fazenda Bulcão ganhou o status de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) e se tornou um modelo reconhecido internacionalmente.
“É um modelo, é um piloto para o Brasil, e eu diria que talvez seja um piloto para o mundo”, afirmou Sebastião Salgado, em entrevista ao Jornal Nacional, em 2021. O trabalho do Instituto inclui a produção de mudas nativas — desde a coleta de sementes, feita até com ajuda de especialistas em rapel, até o cultivo em viveiros especializados — para posterior plantio em mutirões realizados na estação chuvosa.
Além do reflorestamento, Salgado se dedicou à recuperação das nascentes do Rio Doce, uma das mais importantes bacias hidrográficas do Brasil. Com o projeto Olhos D’Água, o Instituto Terra já havia restaurado nascentes em sete municípios até 2015, com a meta ambiciosa de recuperar as cerca de 370 mil existentes.
Paralelamente à atuação ambiental, Sebastião Salgado construiu uma das carreiras mais reconhecidas da fotografia documental, com exposições exibidas nos principais museus e galerias do mundo. Entre as mais famosas estão Êxodos, que retrata o drama de populações deslocadas, e Gênesis, um projeto dedicado a mostrar paisagens e povos ainda preservados da ação humana, reforçando sua conexão com causas ambientais. Suas imagens, de forte apelo estético e social, integram acervos de instituições como o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e a Maison Européenne de la Photographie, em Paris.
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Reconhecido globalmente por obras que documentaram a dignidade e a luta de trabalhadores ao redor do mundo, Sebastião Salgado deixa também um legado de empreendedorismo socioambiental. Seu exemplo inspira ações concretas de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável no Brasil e no mundo.
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