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Sanduíche de R$ 15 da Raquel vale tudo isso mesmo?

Sanduíche de R$ 15 da Raquel vale tudo isso mesmo?


‘É justo’, diz criador de sanduba natural famoso: ‘O frango é sempre o carro-chefe e está caríssimo’. Personagem de Regina Duarte cobrava em cruzados, Taís Araújo vende em Pix; veja comparações Depois de ser humilhada pela filha Maria de Fátima (Bella Campos), Raquel deu o primeiro passo para subir na vida: a personagem de Taís Araújo na novela “Vale Tudo”, da TV Globo, preparou sanduíches naturais e passou o dia nas areias do Leme, praia da Zona Sul do Rio, testando se seus dotes culinários poderiam se tornar uma fonte de renda.
E deu certo. Ela voltou para casa com a sacola térmica praticamente vazia. Mas os R$ 15 que ela disse ter cobrado por cada sanduíche viraram tema de discussão acalorada nas redes sociais.
O preço foi apontado por vários dos noveleiros de plantão como “salgado” para um lanche de praia. Será que o valor está de fato tão alto assim?
Logo no primeiro dia da nova empreitada profissional, Raquel vendeu quase todos os sanduíches. Das 120 unidades preparadas, com recheio de frango ou ricota com azeitona e aipo, 118 foram vendidos. O lucro ela calculou em R$ 500. Raquel faturou R$ 1.770, mas gastou R$ 1.270 em ingredientes e outros custos.
Nas redes sociais muita gente achou a performance fora da realidade, dada a concorrência com outras comidas na praia e o número reduzido de banhistas na cena que foi ao ar. Para muita gente, ela vendeu o sanduíche a um preço muito alto. Outros acham que o valor do investimento inicial é que foi exagerado.
Na primeira versão da trama, a Raquel interpretada por Regina Duarte encarou o sol na praia do Leme com sanduíches com três tipos de recheio: frango com hortelã, ricota temperada e aipo com azeitona preta, “tudo muito bem misturado com maionese e creme de leite”.
Os custos dos ingredientes naquele fim dos anos 1980 — quando a hiperinflação corroía o poder de compra das famílias diariamente — pesaram na compra feita por Raquel para dar início ao negócio. Na cena ao lado de Poliana (Pedro Paulo Rangel), a personagem reclamou do valor das azeitonas e do papel laminado.
“Minha santa! E o preço que estão cobrando pela azeitona preta da boa? Mas eu resolvi empatar porque aquela pequenininha não tem gosto de nada… Mas caro foi o papel laminado! Gastei 400 cruzados de papel laminado!”
Corrigido pela inflação, o papel laminado necessário para que ela preparasse os lanches em 1988 sairia hoje por cerca de R$ 37. Num mercado do Rio, um rolo de 4 metros do material sai por cerca de R$ 4,30. A saída da Raquel do passado foi cobrar 100 cruzados pelos sanduíche o equivalente a atuais R$ 9,50.
No dia a dia das famílias hoje, a carestia não é nem de longe a mesma do período pré-Plano Real, mas ainda, pressiona o orçamento. Não há hiperinflação, mas a alta dos preços de alimentos tem incomodado quem vai para a cozinha todos os dias como a Raquel da ficção.
As cenas de “Vale Tudo” começaram a ser gravadas no fim do ano passado, numa fase de aceleração dos preços de alimentos. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o preço da alimentação em domicílio subiu 7,87% nos últimos 12 meses terminados em março. E alguns dos produtos usados por Raquel no preparo dos sanduíches se destacam.
A maionese, por exemplo, ficou 1,99% mais cara. O frango em pedaços aumentou em 10,85% e a azeitona disparou 14,10%.
Mas R$ 15 é um bom preço?
Para quem é experiente no setor em que Raquel dá os primeiros passos, o preço cobrado por ela pelos sanduíches faz sentido e “é justo”. Do outro lado da Baía de Guanabara, os sanduíches naturais do empresário Marcelo Torres da Costa, ou Marcelo Natural, são os mais pedidos nas praias de Niterói. E custam exatamente R$ 15.
— O frango é sempre o carro-chefe e está caríssimo. Mas não só ele, os ingredientes em geral subiram muito. É um preço justo — opina Marcelo.
Hoje aos 59 anos, o empreendedor começou a vender sanduíches nas areias de Camboinhas há 43 anos, ainda bem antes de Raquel, Maria de Fátima, Odete Roitman e companhia caírem nas graças do público.
Desde então, o cardápio passa de dez sabores com uma produção diária de 600 unidades, mas que passam de 2 mil nos fins de semana de verão. As vendas, além das praias, também acontecem via delivery.
Ele analisa que, numa conta simples, Raquel teve um custo por unidade de R$ 10,58. No caso de Marcelo, considerando ainda os custos com funcionários, ele diz gastar R$ 11 por unidade, patamar bem semelhante ao encontrado pela personagem:
— O preço que a Raquel cobra na novela faz total sentido, ainda mais porque os sanduíches são bem recheados.
Pix e mais higiene
Não foram só os preços mudaram nestes 37 anos que separam a versão original de “Vale Tudo” — assinada por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères — do remake da autora Manuela Dias.
Em 1988, a Raquel de Regina Duarte preparava os sanduíches sem luvas e de cabelos soltos, sem touca. O remake atualizou os cuidados com a higiene durante o preparo dos lanches, o que também aumenta o custo com os acessórios de proteção.
Nas areias das praias, os sanduíches antes transportados numa cesta de vime, agora são levados em bolsas térmicas: mais cuidado com a conservação dos ingredientes e mais segurança para os consumidores.
Além disso, no lugar das crianças que trabalhavam para Raquel nas praias quando a empreitada cresceu, hoje estão jovens com mais de 18 anos e que estudam.
E as notas de CZ$ 100 deram lugar, principalmente, as transações via Pix: nas primeiras cenas, a Raquel de Taís Araújo ainda fotografava com o celular os comprovantes das transferências instantâneas que são hoje o principal meio de pagamento do país. Nas cenas mais recentes, ela se atualizou com uma maquininha de cartão, ferramenta imprescindível dos pequenos empreendedores do país.

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