Quase um ano após enchentes no RS, Instituto Caldeira articula com iniciativa pública e privada para evitar novos desastres
Hub de inovação teve prejuízo de R$ 20 milhões e demorou meses para restabelecer a operação total do espaço. Com lista de espera para novos residentes, o instituto projeta faturamento de R$ 45 milhões em 2025 Era 3 de maio de 2024 quando as águas do Guaíba chegaram ao Instituto Caldeira, hub de inovação localizado no 4º Distrito, em Porto Alegre (RS). Foram 28 dias com água dentro do espaço e mais quatro meses de reconstrução, com limpeza e reformas. A enchente chegou a quase dois metros de altura, inutilizando o térreo do Caldeira e impedindo o acesso das 130 empresas residentes, responsáveis por mais de 15% do PIB gaúcho.
Um ano depois, o hub estima faturar R$ 45 milhões e tem fila de espera de mais de 20 empresas interessadas por um espaço no local. “Estamos tentando aproveitar a atenção gerada pela catástrofe para posicionar o Caldeira como uma instituição que não terá uma enchente impedindo o ímpeto de construção de um estado mais inovador, empreendedor e competitivo”, declara Pedro Valério, diretor executivo do Instituto Caldeira.
Valério recorda que, logo no começo da enchente, desenvolveu um trabalho com a federação dos arrozeiros do estado para conseguir bombear a água para fora do hub, além de um diálogo próximo com o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE). Depois da retirada de toda a água, o Caldeira contou com o apoio da comunidade para mutirões de limpeza.
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“Desde os primeiros dias a mentalidade era não desistir do projeto, retomar. Tinha a questão da velocidade para não perder o engajamento da comunidade, mostrar a força, precisávamos manter o moral alto”, recordou.
Cerca de um mês depois, no início de junho, os segundo e terceiro andares foram reabertos, com todas as empresas que tinham escritórios no térreo sendo deslocadas para conseguir retomar os trabalhos. A reabertura total só aconteceu em setembro.
Marca deixada pela água na parede do térreo do Instituto Caldeira, em Porto Alegre (RS)
Rebecca Silva/PEGN
Valério ressaltou que para além do prédio do Caldeira, há um trabalho forte de interação com o poder público e a iniciativa privada para encontrar caminhos para o cenário da tragédia não se repetir. “28% da cidade de Porto Alegre ficou submersa, não foi só o Caldeira. Nós precisamos de uma articulação muito ampla, mas não é algo trivial, não vamos resolver em seis meses um problema de omissão de décadas. O exercício é descobrir o que faremos no curto, médio e longo prazo”, disse.
A articulação com a DMAE já gerou a revisão dos dutos e do parque hídrico que escoa a água para as casas de bomba, mas também há esforço para a concepção de projetos com parceiros internacionais para conhecer novas tecnologias para construir o futuro da região do 4º Distrito. “Tem pessoas que moram aqui perto, empreendedores que perderam seus negócios. Enquanto sociedade civil, precisamos decidir se vamos resolver o problema ou abandonar a região de novo, que foi o que fizeram em 1941 quando houve uma grande enchente”, opinou.
O hub havia anunciado uma expansão menos de um mês antes das enchentes, em março de 2024. A novidade consistia no uso do terreno em frente ao Caldeira, ocupado no passado pela fábrica da Tecidos Guahyba, ampliando o espaço de 22 mil metros quadrados para 55 mil metros quadrados, com investimento previsto de R$ 120 milhões. A ideia era inaugurar o ambiente neste ano, mas o cronograma foi impactado pelas águas.
Segundo Valério, a estimativa atual é de que as primeiras empresas ocupem o novo local no segundo trimestre de 2026, próximo às datas do South Summit Brazil do ano que vem. Entre 50 e 60 negócios devem ser contemplados com espaços que variam entre 50 metros quadrados e 2 mil metros quadrados. O térreo, que seria usado para escritórios de startups, será um centro de cultura. Ao fim do processo de reformas e ocupação, o novo espaço do Caldeira deverá ser casa para 150 empresas.
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Impacto da enchente
Como gestor, Valério precisou tomar decisões rápidas para lidar com a crise da enchente, proteger o caixa e reavaliar os compromissos, pensando em planos de contingência. “Tivemos um prejuízo de mais de R$ 20 milhões e o nosso seguro cobriu R$ 1 milhão. Precisamos fazer um esforço muito forte de gestão de caixa e buscamos algumas linhas de crédito para acelerar o processo de retomada, além da construção de uma rede de patrocínios e parcerias”, contou.
O Instituto Caldeira registrou faturamento de R$ 25 milhões em 2023. Segundo o diretor, em 2024 o hub fechou no positivo – a cifra não foi revelada – e, em 2025, a projeção é faturar em torno de R$ 45 milhões. O Caldeira é uma organização sem fins lucrativos e o capital é reinvestido em projetos próprios, como o Geração Caldeira, focado em promover especialização e capacitação de jovens para o mercado de trabalho na nova economia.
Entre as grandes empresas que apoiam o projeto de inovação estão Gerdau, Sicredi, Lojas Renner e Vulcabras. Algumas delas ampliaram seus escritórios no hub após a tragédia, o que para Valério é um sinal da resiliência do projeto.
Big techs também desenvolvem parcerias com o hub, como a Oracle, que se tornou cofundadora benemérita do Caldeira e participa da governança do instituto, Amazon Web Services (AWS), Salesforce, Microsoft, IBM, Intel e Dell. Essas chancelas são importantes para posicionar o Caldeira como um hub global localizado em Porto Alegre, um objetivo da instituição.
Outro plano do Caldeira adiado por causa das enchentes foi a criação de um fundo de investimento. Valério afirma que essa é uma das pautas de 2025 e que conversas com investidores institucionais se iniciaram. O hub já acelerou 310 empresas com seu programa Ebulição Startups e gera o próprio funil de avaliações de potenciais investidas. O objetivo é injetar capital em startups do estado, além de apoiar hubs locais.
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