Polêmica Tania Bulhões: entenda o que é white label e como fazer
Após ser questionada sobre a autenticidade dos produtos, empresa responsabilizou fornecedores terceirizados. Especialistas indicam cuidados necessários para adotar modelo de “etiqueta branca” Desde que uma publicação da influenciadora Izadora Palmeira despertou questionamentos nas redes sociais sobre a autenticidade dos produtos da marca Tania Bulhões, a empresa vem buscando explicar o processo produtivo dos itens. Usuários passaram a investirgar se a marca trabalharia com um modelo de negócios chamado white label, em que uma empresa compra produtos ou serviços de outros produtores e os revende com a sua própria marca.
Publicado no dia 14 de janeiro no TikTok, o vídeo de Palmeira mostra a influenciadora sendo servida em um café na Tailândia com uma xícara idêntica a um item da coleção Marquesa, da marca Tania Bulhões, mas sem o logotipo da empresa. No site da companhia brasileira, o conjunto de xícara e pires da coleção inspirada em Minas Gerais custa R$ 210.
Com a repercussão do caso, a empresa se posicionou nas redes sociais e compartilhou o processo criativo da peça. A marca afirmou que todos os produtos são de criação autoral, mas que a produção é realizada com parceiros externos. De acordo com a empresa, um dos parceiros comerciais descumpriu os acordos contratuais e vendeu sobras de produção da coleção Marquesa sem autorização.
“Temos nossos produtos frequentemente copiados. Nosso design, nossas coleções e até mesmo nossa identidade visual são reproduzidos sem autorização. No caso da [coleção] Marquesa, averiguamos que o parceiro descumpriu acordos contratuais, comercializando sobras de produção que não passaram pelo nosso controle de qualidade”, escreveu a empresa em comunicado compartilhado no Instagram.
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Em outra publicação, a empresa pediu desculpas aos consumidores e anunciou a suspensão da fabricação da coleção envolvida na polêmica até o início das operações da fábrica própria da marca. “Com a aquisição da fábrica Royal Limoges, na França, e a construção da nossa fábrica em Minas Gerais, passaremos a produzir 100% da nossa porcelana em nossas próprias fábricas, garantindo ainda mais controle, qualidade e segurança em cada peça.”
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O que é e como trabalhar com white label
O modelo de white label corresponde a uma prática em que empresas compram produtos ou serviços de outras companhias para revendê-los com a sua própria marca. Também chamada de “etiqueta branca”, a estratégia é comum em diferentes setores, como tecnologia, alimentação, cuidados pessoais e vestuário.
Segundo David Kallás, professor de estratégia do Insper, no Brasil, a prática é frequente em produtos de marcas próprias de supermercados, por exemplo, que costumam contar com um mix de produtos muito amplo, como a Qualitá, do Grupo Pão de Açúcar. “Além disso, empresas de software muitas vezes oferecem plataformas personalizáveis, empresas de cartão de crédito permitem que as marcas tenham os próprios cartões”, exemplifica.
O professor destaca que o modelo pode trazer alguns desafios ligados à terceirização, como a garantia de qualidade e dependência em caso de problemas na operação do parceiro. Apesar dos riscos, quando feita com o cuidado necessário, a prática pode beneficiar diferentes tipos de negócio, incluindo empresas de pequeno porte.
De acordo com Marcos Machado, professor da FIA Business School, o uso do white label está mais ligado aos objetivos da empresa do que ao porte. “Pode ser até mais interessante para pequenas empresas pensarem nesse modelo, já que tendem a ser negócios com menor capacidade de investimento para crescer rápido. Assim, podem utilizar a capacidade instalada de um terceiro para crescer”, aponta.
Machado destaca que as especificações de produção são de responsabilidade da empresa contratante e devem estar alinhadas com o propósito da marca. Para empreendedores que pensam em adotar o modelo, o professor indica três passos essenciais: definição clara de concepção de produto; seleção rigorosa do fornecedor; e fiscalização, a afim de garantir que todas as especificidades do contrato sejam cumpridas. “No caso da Tania Bulhões, por exemplo, a etapa da fiscalização pode ter falhado”, comenta Machado.
Segundo o advogado especialista em propriedade intelectual e sócio do escritório Almeida Advogados Márcio Chaves, quando uma marca opta pela produção white label é importante estabelecer em contrato todas as obrigações do fornecedor. A definições contratuais devem incluir a demonstração dos direitos de propriedade intelectual necessários para a fabricação, como direitos autorais e de designação geográfica.
Os especialistas destacam que, do lado dos consumidores, é importante que as marcas comuniquem o processo de produção com transparência. “Não é nenhum demérito saber que é um parceiro que produz”, aponta Kallás, que destaca que a autenticidade pode se apresentar a partir da identidade da marca e personalizações do produto ou serviço.
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