Pizza inspirada em trilho de trem vira ideia de negócio em Curitiba
A inovação no formato e nos sabores têm ajudado a atrair o público para a Pizza Pitoresca, de acordo com o fundador. No primeiro ano, empresa já vendeu o equivalente a 35 quilômetros de massa esticada São muitos os significados da palavra pitoresco. Tem a ver com diferente, incomum, singular, inusitado, curioso, exótico, excêntrico. A Pizza Pitoresca tem um quê disso tudo. E o que mais representa essa imagem é o formato da pizza de 70 cm, inspirado em um trilho de trem. Segundo o fundador Henrique Kuntzler, 39 anos, trilhos de trem fazem parte do cotidiano de algumas áreas de Curitiba (PR), onde ele abriu o negócio há um ano. “Temos um passeio turístico que sai da cidade. E no meu caminho para a academia, por exemplo, há um trecho onde ‘a vida para’ enquanto todo mundo espera o trem passar”, conta.
Numa dessas pausas aguardando a cancela abrir depois de o trem seguir seu rumo, Kuntzler pensou: “e seu fizesse uma pizza no formato da linha do trem, mais comprida, para atender a um público específico, como grupos de pessoas que buscam por uma peça maior?”
Ele conta que já tinha visto pizzas gigantes, claro, mas nenhuma que não fosse redonda. Começou a estudar o assunto e foi ouvir pessoas que são referência no mercado: “Todo mundo me chamou de louco! Diziam que não venderia, que não ia ter caixa para acomodar nem jeito de transportar”, lembra o empreendedor.
Ele não se deu por vencido e decidiu se preparar para provar o contrário. Fez um curso de chef pizzaiolo, contratou a consultoria de um italiano especialista em massa de longa fermentação e buscou fornecedores para devolver a embalagem para a pizza comprida e para a bag para fazer o transporte de moto. Junto com a sócia e esposa, Jessica Liu, 32 anos, criou e desenvolveu receitas, dos sabores tradicionais às mais inventivas.
Assim nasceu a Pizzaria Pitoresca, negócio que funciona no modelo delivery. Desde sua abertura, há exato um ano, ela comercializou mais de 50 mil pizzas, o equivalente a 35 quilômetros de massa esticada ou 2,7 campos de futebol ou 15 piscinas olímpicas de uma variedade de sabores. Além da pizza trem, carro-chefe responsável por 60% do faturamento, também saem dos fornos redondas de 25 cm e de 35 cm.
Todo mês, a casa utiliza 1 tonelada de muçarela, 1,3 tonelada de tomate e 1 tonelada de tomate-cereja, só para citar alguns exemplos. E essa conta não inclui o tomate usado para o molho.
O empreendedor destaca que nasceu e cresceu na pizzaria dos pais, a primeira Pitoresca, que fica na Zona Norte de São Paulo. “Ela tem 36 anos, e foi uma das pioneiras em oferecer rodízio”, diz ele, que atualmente tem metade da sociedade dessa loja e, aos poucos, está levando novidades para a “irmã mais velha”. A Pitoresca de Curitiba foi um rebranding da primogênita, temos muita troca”, afirma.
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Foco na criatividade e na qualidade
Para os que duvidavam que o negócio daria certo, um recado: a Pitoresca tornou-se um sucesso e sua evolução foi, de certa maneira, meteórica. Kuntzler credita a trajetória bem-sucedida a uma combinação de fatores. “O primeiro, sem dúvidas, é a qualidade do produto e do atendimento. Utilizamos ingredientes de primeira linha, como uma muçarela que vem de Rondônia, é mais cara do que as do mercado, mas não abrimos mão dela. A farinha, importada da Itália é outro”, conta. A massa respeita o processo de longa fermentação de, no mínimo, 24 horas, por isso, fica mais leve e agradável ao paladar e à digestão.
O cuidado no processo operacional é outro fator importante. Para Henrique Kuntzler, a excelência durante toda a jornada de compra e de entrega das pizzas é fundamental. “Tenho duas pessoas focadas em conferir os produtos. Se faltou uma salsinha, volta para a cozinha. Só depois de estar tudo certo, a caixa é lacrada e enviada. Nenhuma pizza sai sem a validação delas”, explica.
O treinamento e o acompanhamento estreito de cada uma das 45 pessoas da equipe atual (nos finais de semana, com a adição de mais entregadores, o número sobe para 60) é mais um elemento que conta para a Pitoresca funcionar bem. “Fazemos questão de cuidar dos funcionários e de oferecer oportunidade de crescimento por meio de planos de carreira. Tem gente que começou como auxiliar e hoje é pizzaiolo pleno. O time é diferenciado e comprou o projeto desde o início”, comenta o empreendedor.
A dedicação vem dando frutos. A Pizzaria Pitoresca é uma das mais bem avaliadas no iFood – eles têm entrega própria, mas vendem pelo aplicativo (além de vender pelo telefone e pelo WhatsApp) –, com nota 4,9 (de 5) e mais de 1.700 avaliações positivas. Além das razões já mencionadas, eles contam com atendimento humanizado, dedicando um profissional só para o iFood e outro só para o WhatsApp. Ou seja, quando faz o pedido, o cliente recebe mensagens de pessoas, não de robôs. Elas avisam quando a pizza entra no forno, quando está a caminho e, depois de um tempo, perguntam se o produto atendeu as expectativas.
A embalagem e a bag, desenvolvida especialmente para a Pitoresca, têm tanta qualidade que é comum os clientes fazerem vídeos recebendo a pizza – neles, é possível enxergar a fumaça do calor saindo da bag. “A gente entrega em um raio de mais de 30 km na cidade. Há quem prefira pedir nossa pizza em vez de encomendar da pizzaria mais perto, porque sabe que chega mais rápido e mais quente”, afirma Kuntzler.
Após um ano de operação, quando investiu R$ 150 mil para iniciar o negócio, a pizzaria acaba de mais que dobrar de tamanho. Cresceu em espaço e em capacidade de produção e atendimento – e passou de 70 m2 para 200 m2.
Ajuda no marketing
Mas de nada valeriam o trabalho, a qualidade do produto e a pizza quentinha se ela não fosse conhecida. Para isso, Henrique Kuntzler usou sua experiência como profissional de marketing que foi durante boa parte da sua vida e focou, segundo ele, na “estratégia 360 graus on e offline”.
Além de investir em boas fotos, em reels e na divulgação, ele se beneficiou do poder do boca a boca. Um dos golaços foi poder contar com crescimento orgânico – por ter a pizza trem como chamariz e diferencial, muitos influenciadores foram conhecer e divulgaram espontaneamente. A ponto de a Pitoresca conseguir espaço em um telejornal da TV Globo que levou a pizzaria a fechar antes da hora naquele dia por falta de insumos.
Pizza com ingredientes nobres, produto quente e buzz na internet são uma boa combinação. Assim como também são boas as combinações de ingredientes que a Pitoresca inventa. Os sabores mais vendidos são tradicionais, como frango com requeijão cremoso e de corn (milho) e bacon. Mas entre as campeãs de vendas, incrivelmente, também está um sabor doce, criado por Kuntzler: a banana nevada, que leva a fruta, creme culinário (receita da casa), chocolate branco e canela. “Quem prova repete o pedido”, assegura o empreendedor.
Pizza de banana nevada da Pizza Pitoresca: pedido é o carro-chefe
Davi Espíndola
Na pizza trem, o cliente pode incluir até quatro sabores diferentes. Ela tem ótima saída para eventos de empresas, comemorações em família ou entre amigos ou para quem tem fome e apetite para tanto.
Para deleite dos clientes, sempre há novidades sazonais, como a pizza de bacalhau, vendida na Páscoa, ou a com massa feita com carvão ativado. Algumas acabam ficando no cardápio, como a pizza de costela. Atualmente são mais de 90 sabores, muitos deles, autorais. Agora em junho, entra em cena a pizza de pinhão, paixão junina e, em especial, dos paranaenses.
O tíquete médio da Pitoresca é de R$ 140. A empresa não divulga faturamento, mas basta dizer que o plano de expansão para este ano é abrir mais três unidades delivery, a primeira delas, nos próximos dois meses. “E miramos sete lojas franqueadas”, afirma Henrique Kuntzler.