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O que é write-off? Fundadores falam sobre processo de fechamento de suas startups

O que é write-off? Fundadores falam sobre processo de fechamento de suas startups


PEGN explica o processo de encerramento de operações das startups e prestação de contas com investidores. Empreendedores que passaram por isso dão dicas e conselhos Nos últimos meses, startups como Mercado Diferente, Plure e Apprenty anunciaram o fim de suas operações. O mercado de inovação envolve riscos e, em um cenário de capital mais restrito, a mortalidade tende a crescer. Quando as startups captam investimento externo, o processo de encerramento de atividades contempla o write-off.
Em termos contábeis, o write-off é a remoção de um investimento do balanço financeiro, indicando que houve uma perda. Isso acontece porque os investidores reconhecem que não terão retorno financeiro do capital investido na startup. O valor da empresa é reduzido a zero no portfólio porque não há mais chances de sucesso e geração de receita.
Além da falta de capital, apaixonar-se pela solução, não aceitar críticas e sugestões de pivotagem pode levar uma startup a encerrar as operações, segundo Susana Garcia-Robles, managing partner da Capria Ventures. Ela também aponta a falta de análise de mercado como motivo frequente para a mortalidade dos negócios.
A especialista ressalta, porém, que o risco é inerente ao mercado de inovação e investidores estão acostumados a isso. “Parte da nossa responsabilidade é monitorar como vai a startup, criar um relacionamento de confiança, para que quando o empreendedor tenha um problema, ele nos procure. Não é microgerenciar a empresa, mas gerenciar riscos de forma proativa”, pontua.
Paulo Guidugli, fundador da Wanda, plataforma de recrutamento para profissionais de enfermagem que encerrou as operações em 2024, diz que a parte mais difícil é tomar a decisão de fechar as portas. “Dá medo do julgamento. Eu tinha captado havia pouco mais de um ano, não tinha gastado todo o dinheiro ainda”, relembra.
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Isaac Matzner, da Teddy, insurtech que oferecia benefícios para autônomos, aponta que é natural se iludir com um futuro promissor. “Quando você empreende, é fácil racionalizar a continuidade: se a gente fechar esse contrato, se lançarmos essa funcionalidade, vai rolar. Mas é preciso saber que nada é linear. Às vezes, as coisas demoram para acontecer ou acontecem por acidente”, declara.
PEGN conversou com especialistas e fundadores que tiveram de encerrar as atividades para falar sobre suas experiências com o processo de write-off. Confira:
Contrato
No Brasil, a maior parte dos investimentos de venture capital no early stage é feito no formato de mútuo conversível. Nesta modalidade, os investidores “emprestam” dinheiro para a startup que, no futuro, se converterá em participação societária. Tomás Neiva, sócio do escritório Mattos Filho, afirma que cláusulas que permitem a saída do investimento por um preço simbólico são comuns nesses contratos.
“Os investidores não vão deixar chegar o momento em que a startup quebrou totalmente. Quando uma empresa tradicional entra em falência, os credores podem se interessar pela massa falida, mas a startup não tem isso, então os investidores querem pular fora o quanto antes”, explica.
Garcia-Robles corrobora. “Ninguém quer ser a pessoa que vai apagar o fogo quando a startup não tiver mais dinheiro em caixa. Não damos dinheiro para sobreviver”. Na experiência da investidora, que já aportou capital em mais de 100 fundos, 30% das startups que receberam investimento encerraram as atividades.
Neiva ressalta que, se o acordo for de mútuo conversível, como o investidor se torna credor da startup, em tese poderia cobrar dos fundadores se o contrato já tiver passado do vencimento. “Isso pode agravar a situação da startup. Imagine estar andando de lado, mas com esperanças de retomar as atividades. Se ele executar o pagamento da dívida, pode ser a gota d’água”, alerta.
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Sinais de alerta
Brian Requarth, cofundador de Viva Real e Latitud, diz que o principal sinal de que a startup não está indo bem é a comunicação perder frequência. “Os fundadores ficam preocupados em dar más notícias, compartilhar que está difícil, mas os investidores estão acostumados. Deixar de funcionar não acontece de repente, é pouco a pouco”, afirma.
Andrezza Rodrigues, fundadora do sistema de gestão financeira HerMoney, enxerga falhas na comunicação com seus investidores. Ela relembra que enviou e-mails pedindo ajuda e avisando que o dinheiro estava acabando, mas as mensagens não eram lidas.
“Quando eles receberam a comunicação oficial do encerramento, tive de atualizá-los de algo que eu já falava havia seis meses. Eles ficaram frustrados porque só souberam quando não tinha mais jeito, eu já estava decidida”, conta.
Andrezza Rodrigues, da HerMoney, voltou a empreender com um ecossistema de produtos e serviços para que mulheres estruturem seus negócios
Divulgação
Ao longo da jornada, a HerMoney recebeu cerca de R$ 2 milhões em investimentos, mas o mercado mudou – com a alta da taxa de juros, o dinheiro ficou mais escasso para aportar em ativos de alto risco, como as startups. “A cultura da época era botar volume, o dinheiro entrar e o milagre acontecer. Saímos de uma planilha para 3 mil usuárias, mas apenas 10% eram pagantes. Eu precisava de R$ 5 milhões para transformar a operação, mas meu pool de anjos só conseguia R$ 1 milhão”, relembra. A HerMoney encerrou as atividades em dezembro de 2022, após meses de conversa com os investidores.
Os fundadores devem priorizar o runway nas comunicações com os investidores. Se a startup estiver com problemas de caixa, só existem dois caminhos: aumentar a receita ou cortar custos. Na hora de tomar a decisão de encerrar as operações, o caixa deve ser levado em consideração. “Deve ser muito difícil se dar conta de que é o fim da linha, mas você deve ter um colchão para encerrar a empresa de maneira ordenada e não ter problemas”, pontua Neiva, do Mattos Filho.
Decisões e desafios no fechamento das portas
Ligada nas métricas da startup, Jhenyffer Coutinho percebeu rapidamente quando as vendas da Plure começaram a cair. Se antes era preciso negociar com oito clientes para fechar um contrato, agora era necessário 100 prospecções para um sim. Ela já havia pivotado o negócio – que nasceu como Se Candidate, Mulher! – do B2C para o B2B para conseguir captar investimento. A startup de capacitação feminina para cargos de liderança chegou ao fim em julho de 2024, após quatro anos.
Coutinho acompanhou os indicadores por um ano e teve outra ideia de pivotagem, mas precisaria de mais capital. Ela tentou por seis meses, mas levantou R$ 500 mil dos R$ 2 milhões necessários. “Muitos ajudaram, pensamos em muitas coisas, mas não foi suficiente para sair daquele cenário. Tentaram me convencer a continuar, acreditavam no propósito, existia confiança no meu trabalho”, conta.
Jhenyffer Coutinho, da Plure, tornou-se sócia da Gupy e ocupa o cargo de Líder de Experiência para a Pessoa Candidata
Divulgação
A fundadora encerrou as operações ao longo de seis meses, sendo transparente com os funcionários sobre as dificuldades da empresa. “Meu maior medo era investidor, funcionário ou cliente sair falando mal de mim”, revela.
Para Matzner e os cofundadores da Teddy, o aviso de encerramento aos investidores deveria acontecer pessoalmente. O aporte de Latitud, Incite Ventures e anjos brasileiros e estrangeiros durou cerca de 3 anos – com o longo ciclo de vendas, a startup não conseguiu tracionar, nem levantar outra rodada. “Para nós era importante agradecer a todos pelo apoio e confiança. Eles não queriam perder dinheiro, ajudaram a achar o próximo passo, viram que tentamos. Me sinto culpado por não ter dado certo, amigos colocaram dinheiro na ideia e vou pagar as bebidas deles para sempre”, afirma. A startup encerrou em 2024.
Parte do time da Teddy: Daniel Pizarro, Isaac Matzner, Eduardo Nuzzi e Bianca Sakai
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Pagando (em partes) o que deve
Paulo Guidugli viveu algo diferente. Ao decidir fechar a Wanda, ainda tinha dinheiro em caixa – a startup captou R$ 1,5 milhão com o Corporate Venture Capital da Afya e investidores-anjo.
“Não tivemos problema para vender, mas identificamos que nosso negócio não era para venture capital, muitas variáveis teriam de acontecer para dar certo. Podíamos pivotar para um mercado maior, manter a empresa para planejar um M&A ou fechar. Nossa decisão foi encerrar e devolver o dinheiro”, conta.
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O fundador já tinha encontrado emprego enquanto trabalhava no fechamento da startup. Ele afirma que a devolução não estava prevista em contrato, mas que decidiu seguir desta forma. “Tínhamos de cinco a seis meses de caixa após as demissões. Estou devolvendo a parte de cada um proporcional ao que restou no caixa da empresa”, revela.
Os fundadores disseram que seus investidores se mantiveram à disposição caso eles desejem voltar a empreender um dia. Requart, da Latitud, corrobora e explica o porquê: “Nem todo mundo marca gol na primeira vez. Se o fundador dirige o processo bem e o negócio não deu certo por questões de mercado, eu diria que é ainda mais provável investir na próxima vez pelo ganho de bagagem”.
Impacto
Apesar das experiências positivas com os investidores no momento do write-off, o processo deixa marcas nos fundadores. Rodrigues, da HerMoney, pontua que não há preparo emocional para o fim de um negócio. “Me senti muito fracassada, fechamos no auge. Eu tive burnout, fiquei internada. Quando você cria a sua startup, ela é seu filho. A safra de 2018 vivia pela missão, então é como matar uma missão de vida”, desabafa.
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Coutinho destaca que é importante entender que não se trata de fracasso. “O senso comum de entender que desistir é fracassar está adoecendo as pessoas. Deu certo até quando existiu. Antes eu me sentia impostora, mas é mais difícil fechar do que abrir. Fechar um negócio demanda coragem”, conclui.
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