Marcas de biquíni apostam na tendência de ‘moda fitness fora da academia’ para aumentar vendas
Especialistas apontam que similaridade na produção de roupas de banho e esportivas é uma das vantagens Quando escolheu Basickini como nome do seu negócio, Carolina Alves apostou em deixar claro o que ela venderia: biquinis básicos. Porém, o produto não é mais o único oferecido pela marca, que passou a vender também roupas esportivas. Assim como ela, outras empreendedoras do ramo têm apostado nessa diversificação, observando uma maior demanda por produtos de moda fitness.
Para Alves, a necessidade de expandir o catálogo veio em 2022, quando a empreendedora inaugurou uma loja física na cidade de São Paulo. “A ideia era aumentar o tíquete médio e ter mais produtos expostos”, afirma. “Já estávamos pensando em sair do nicho de moda praia, e as consumidoras começaram a pedir roupas esportivas para serem usadas com conforto no dia a dia. Entendi que era uma ideia sensata dentro do conceito da Basickini de peças básicas e atemporais.”
A aposta na venda de roupas esportivas é vista com bons olhos por Lilyan Berlim, professora de moda da ESPM, que diz que o setor fitness apareceu com mais força a partir de 2016 — mas se tornou um boom na pandemia. “Essas roupas alcançaram espaços de rua, muito próximo ao streetwear”, afirma. “As marcas de moda praia já têm uma questão muito forte com o corpo, assim como a moda fitness. O corpo é moldado durante os treinos para ser mostrado de alguma forma.”
Os números comprovam a tendência de crescimento: a produção de itens de moda esportiva atingiu valor de R$ 23,2 bilhões em 2023 no Brasil, um crescimento de 3,4% em relação ao ano anterior. O e-commerce tem destaque, com crescimento de 50,4% no volume de peças vendidas no ano passado em comparação a 2022. Os dados são da Inteligência de Mercado (IEMI) e da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
Wellington Mendes, docente da área de moda do Senac São Paulo, diz que o segmento fitness é um dos que mais cresceu na última década por conta da onda de conscientização sobre hábitos saudáveis, prevenção de doenças e maior qualidade de vida. Em meio à tendência, ele diz que as empresas de moda praia tendem a se destacar inserindo roupas de ginástica em seu catálogo.
“A oportunidade de negócio está implícita ao processo natural de compra, já que, muito provavelmente, a pessoa que tiver o hábito de ir à praia ou à piscina tenderá a se preocupar com a saúde mental e física, incluindo o culto ao corpo e a frequência assídua a academias de ginástica”, diz.
O professor também ressalta a similaridade da produção. “O desenvolvimento do produto na esfera da modelagem e confecção tende a ter um processo bastante parecido, incluindo os maquinários, tecidos e aviamentos utilizados”, afirma Mendes, acrescentando que até as orientações de utilização e conservação das peças, sugeridas na etiqueta de composição, são similares.
Foi o caso de Alves, que relata não ter tido desafios para encontrar uma empresa para fabricar os novos produtos. “Geralmente as confecções que utilizam maquinário de moda praia também já fazem peças esportivas, então a produção não teve grandes problemas”, afirma.
Carolina Alves, fundadora da Basickini
Divulgação
Saiba mais
A Basickini tem um público-alvo dos 15 aos 28 anos, e conseguiu atrair clientes mais velhas com os produtos esportivos. “Apesar de a nossa comunicação ser voltada a pessoas mais novas, percebemos que, na loja física, mães que vão com as filhas também acabaram adquirindo peças para elas”, afirma.
Os biquínis continuam sendo o carro-chefe da marca, com 80% do faturamento. O restante corresponde às roupas esportivas. “Sempre seremos uma marca forte de biquínis básicos, mas é possível englobar um leque maior de produtos para se adaptar ao mercado e às necessidades das consumidoras”, afirma. “Tudo que pode ser agregado ao nosso conceito básico e ser um complemento de nosso produto poderá ser aproveitado.”
Alternativa para vendas em baixa
Para Luana Salgueirosa, 27 anos, a motivação para empreender com biquínis veio da dificuldade de encontrar peças para ela mesma. “Visto uma numeração muito baixa, e tinha que procurar biquínis na seção infantil. Decidi criar uma marca com uma modelagem adequada para mim e para outras mulheres”, afirma. Em setembro de 2019, ela fundou a Haluna Beachwear, com vendas em canais digitais. Hoje, a marca também conta com um showroom em Santos, no litoral de São Paulo.
“Por conta da baixa demanda de biquínis na pandemia, no final de 2020, decidi vender um top esportivo para que as clientes pudessem treinar dentro de casa, mas que também poderia ser usado em um look mais casual”, afirma. “Meu foco eram os biquínis, então tive de focar no marketing para mostrar a versatilidade das peças, explicando que eram produtos que poderiam ser usados em todas as ocasiões do dia a dia, tanto para exercícios físicos quanto para sair.”
A partir de 2022, ela estreou a linha fitness, que hoje conta com linhas completas — mas os biquínis continuam sendo o forte do negócio. “Corresponde a 90% das minhas vendas”, afirma. “Quero aumentar a cartela de produtos fitness para aumentar a participação no faturamento.”
Luana Salgueirosa, fundadora da Haluna Beachwear
Divulgação
Já a empreendedora Yaskara Marinho levou um tempo para apostar nas vendas de roupas esportivas na Laym, empresa fundada há 14 anos junto com a irmã Larissa Marinho. O negócio tem um e-commerce e duas lojas físicas, uma no Ceará e outra em Santa Catarina.
A primeira aposta além dos biquínis veio em 2017, vendendo uma saída de praia que também poderia ser usada em outros momentos — inclusive em festas à noite. “Eu já notava que a moda fitness estava se estendendo para um uso casual, então se encaixava no nosso tipo de produto”, afirma a empreendedora, que passou a ficar de olho na tendência.
A oportunidade surgiu no início da pandemia. “Existia um movimento para que as pessoas praticassem exercícios em casa, então fez sentido com o nosso conceito de fazer bem para o corpo e para a alma”, diz. Hoje, a moda fitness já representa 30% do faturamento da empresa.
Yaskara Marinho, da Laym
Divulgação
Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da PEGN? É só clicar aqui e assinar