Mãe cria acessório para a filha ir à escola e ideia vira negócio familiar de 40 anos
A Roana foca no atacado, atende todo o Brasil e faturou R$ 6,5 milhões em 2024. A expectativa é crescer 20% neste ano A Roana, marca mineira criada em 1985 na cidade de Frutal (MG), surgiu de forma despretensiosa: Leila Bandeira Rosa, hoje com 63 anos, começou a fazer laços de cabelo para a filha Ana Patrícia Rosa Costantini usar na escola. Os acessórios chamaram a atenção de outras mães, que passaram a fazer encomendas — e foi assim que Leila identificou uma ideia de negócio.
Atualmente, aos 44 anos, Ana Patrícia divide a gestão da empresa com a mãe. “Encontramos uma forma de dividir as tarefas de modo que uma completa o trabalho da outra”, afirma Leila. Ela cuida da parte de compras e da produção, enquanto a filha é responsável pelo comercial e pelo setor administrativo. Já a criação e o desenvolvimento das coleções seguem são um processo conjunto entre as duas, sem a contratação de estilistas.
A empresa comercializa acessórios como tiaras, presilhas, faixas, bolsas e, desde 2000, itens de enxoval, roupas e produtos voltados ao universo infantil, focando em crianças de até quatro anos. Com cerca de 150 funcionários, a empresa produz até 5 mil peças por mês.
Com foco no B2B, a Roana atende todo o Brasil e faturou R$ 6,5 milhões no último ano. A expectativa é crescer 20% em 2025. As vendas são realizadas em feiras e showrooms por todo o país. A empresa também conta com uma loja física integrada à fábrica e realiza atendimento por WhatsApp.
“Não temos e-commerce próprio porque acreditamos no valor do relacionamento com os lojistas. Queremos que o cliente final conheça a marca pessoalmente, com atendimento personalizado. Nossa proposta é fortalecer os parceiros lojistas, muitos dos quais têm clientes fiéis que já procuram diretamente os produtos da Roana”, diz Ana Patrícia. Segundo a empreendedora, a Roana atende o B2C ocasionalmente, quando um cliente manda mensagem na página do Instagram muito interessado em um produto que não está disponível por meio de lojistas parceiros.
Começo em casa
A produção começou artesanalmente na sala de casa de Leila. “Cresci nesse ambiente, entre as mulheres costurando e a gente brincando ou fazendo tarefas no mesmo espaço”, diz a filha.
As primeiras encomendas vieram de mães de colegas e parentes, mas a empreendedora percebeu, desde o início, que seria mais vantajoso atender outros comerciantes. A estratégia da empreendedora era visitar lojas infantis e mostrar seus produtos pessoalmente, inclusive em cidades mais distantes como São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. A primeira cliente virou amiga e mantém loja na cidade até hoje.
Com cerca de cinco anos de negócio, ela teve a ideia de explorar o mercado do Rio de Janeiro, que era um polo comercial importante. “Por ser de fácil acesso a partir de São José do Rio Preto, minha mãe e meu pai passaram a ir de ônibus com as caixas de produtos. No Rio, pesquisavam lojas infantis, apresentavam os acessórios pessoalmente e começaram a firmar parcerias”, diz a filha.
Então, uma empresária carioca comprou diversas peças e as enviou para a Arábia Saudita — o que aumentou muito a demanda de Leila, que precisou contratar mais pessoas para dar conta da produção.
A empreendedora produziu apenas acessórios infantis femininos, todos bordados à mão, por aproximadamente 15 anos. Até que, no inicio dos anos 2000, decidiu inserir a confeção. “Quando meu primeiro neto nasceu, percebi que não tinha um nicho de roupas femininas e masculinas da maneira que eu gostava, com um estilo mais romântico. Então comecei a fabricá-las”, afirma Leila.
Saiba mais
A filha embarca no negócio
Apesar de ter sido criada dentro da empresa, a filha decidiu, aos 17 anos, cursar Nutrição em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. “Mesmo assim, nas férias e nas feiras, eu ajudava a fábrica. Trabalhei dois anos na área, mas percebi que minha paixão estava no comércio”, diz. Voltou a Frutal em 2004 e entrou definitivamente para o negócio.
Na época, seus pais viajavam para atender os clientes e a filha propos que a mãe ficasse na fábrica. “Passei a visitar lojistas em diversos estados — Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e interior de São Paulo. Com o tempo, trocamos as visitas por showrooms em cidades estratégicas. Fiz isso por cerca de oito anos, até decidir retornar à fábrica para auxiliar na gestão”, afirma.
Mais tarde, outros familiares se juntaram à empresa. O irmão assumiu por um tempo a gestão financeira, mas precisou voltar à fazenda para ajudar o pai, que enfrentava problemas de saúde. A irmã, que cuidava das áreas de compras e marketing, decidiu abrir uma loja própria em que vende produtos da Roana. Há três anos, Ana Patrícia e a mãe são as responsáveis diretas pela empresa.
Para Leila, o segredo do sucesso está em ter a filha por perto e ter muito amor. “Nós nos diferenciamos porque conseguimos produzir peças com bordados manuais, que nos tornam únicas e especiais, mantendo, ao longo dos anos, o DNA da marca”, afirma. “É uma alegria imensa poder tê-la [Ana Patrícia] ao meu lado, dando continuidade a tudo que construí durante esses anos.”
Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da PEGN? É só clicar aqui e assinar