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Jovem cria marca de café que valoriza as raízes de comunidade indígena em Roraima

Jovem cria marca de café que valoriza as raízes de comunidade indígena em Roraima


Ana Karoliny Calleri, da comunidade indígena do Kawê, em Pacaraima, fundou com a família o Imeru Café Ana Karoliny Calleri, 24 anos, cresceu na comunidade do Kawê, em Pacaraima, dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, a 213 km de Boa Vista (RR). A jovem trocou o curso de Medicina pelo sonho de empreender com propósito — e criou, com sua família, a marca de café arábica Imeru Café, que carrega suas raízes, da etnia macuxi e da terra onde cresceu.
O café arábica é uma espécie originária da Etiópia com notas frutadas, florais e achocolatadas e aroma intenso e marcante. Quando foi plantado no sítio de 1,5 hectare da família Calleri, em 2017, era destinado apenas ao consumo próprio.
“Minha avó Olindina pediu para que meu pai plantasse as sementes. Nós até esquecemos lá: nem sabíamos como processar café”, conta a jovem.
Três anos depois, na pandemia, um amigo da família visitou o sítio e pediu uma amostra para identificar o potencial dos grãos. Ele então levou 2 kg de café para que um professor de uma universidade de Boa Vista analisasse o produto. Em 15 dias, voltou já com o protótipo e com a notícia de que ali havia uma espécie com potencial de venda.
Em menos de um mês, Ana, na época com 19 anos, trancou a faculdade de Medicina — que estava fazendo online — e começou a fazer cursos na Fundação de Amparo à Pesquisa de Roraima (FAPERR) e no Sebrae-RR. Com investimento inicial próprio de R$ 1 mil, a jovem comprou embalagens e investiu na identidade visual, enquanto seu pai, Itamar Calleri, e sua mãe, Nerci Lima Siqueira, focaram no cuidado com a terra.
Assim nasceu o Imeru Café. O nome significa “cachoeira” em macuxi, do dialeto e também da etnia da família. A inspiração veio do sítio de Ana e dos pais, chamado Cachoeirinha.
Uma breve divulgação do produto, feita pelo professor que havia analisado a amostra de café, deu início a uma onda de pedidos. “Aprendemos a torrar e logo as pessoas passaram a gostar do nosso café. Saiu no jornal, em coluna de gastronomia e tudo mais”, destaca Ana.
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Nos primeiros seis meses, a marca vendeu 100 pacotes de 250 g e faturou R$ 2,5 mil. Com o crescimento da demanda, as 90 plantas do Imeru Café não deram conta. A empreendedora criou uma lista de espera com 100 clientes — que só receberam o café um ano depois.
Com o lucro, os Calleri reinvestiram na marca e aumentaram o número de plantas. Hoje, eles têm 3,5 mil, sendo mil em fase de produção. A família colhe cerca de 2,8 toneladas por ano, com perda de 25% no processo.
A produção era — e ainda é — 100% artesanal. O pai e o irmão do meio cuidam da lavoura, Ana e a mãe lidam com o pós-colheita. Elas selecionam os grãos maduros manualmente, fazem a secagem e torram o café. O irmão mais velho, que mora em Boa Vista, é responsável pela distribuição do produto nas cafeterias locais. Ana cancelou a matrícula na faculdade para se dedicar ao negócio.
O Imeru Café tem dois produtos, um especial, com grãos selecionados, e outro mais básico. Os pacotes têm 250 g e custam, respectivamente, R$ 45 e R$ 35.
“Nosso café é muito nichado, então vendemos em curadoria de cafés e cafeterias específicas. Muitos turistas visitam nossa comunidade e compram também. O local que revende o café precisa estar alinhado aos nossos valores e da nossa comunidade”, diz a jovem.
Grãos do Imeru Café
Cabron Studios
No final de 2021, Ana iniciou um novo projeto: uma rota turística que inclui café da manhã na comunidade indígena, passeio pela cachoeira e imersão no sítio da família, apresentando todo o processo de colheita e torra do produto. Por fim, os visitantes fazem uma degustação de queijo com café. Cada pessoa paga R$ 350 pela passeio.
Ao lado de sua família, a empreendedora ainda está enquadrada como Microempreendedor Individual (MEI) e fatura em torno de R$ 81 mil anuais. Hoje, 40% da receira vem do Imeru, 30% da rota de turismo e 30% da produção de queijo, porco e galinha do sítio.
A empreendedora afirma que ter um bom produto é importante, mas estudar sobre o setor vem sendo um diferencial. Hoje ela tem curso de barista, classificações e degustações de cafés especiais e negócios. Também conta com o apoio de instituições como Sebrae, Embrapa e, mais recentemente, do “Mãos da Transição”, projeto criado pela agência Purpose que está auxiliando a jovem com treinamento e marketing.
Neste ano, Ana passou a vender seu produto em uma cafeteria em Belém (PA). No final de 2025, ela levará 100 kg do café para a COP30, por meio da iniciativa Amazônia Forever. Sua meta neste ano é ultrapassar o teto de faturamento do MEI e aumentar a produção. A família irá plantar mais 6 mil mudas de café, que estarão prontas para colheita daqui a dois anos.
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