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Jovem carioca empreende com tatuagens especializadas em pele negra


Thaina Prado sempre teve uma veia artística e hoje a exerce por meio das tatuagens e grafite “Sou artista desde criança”, diz Thaina Prado, de 29 anos. Na infância, a carioca explorava sua veia artística por meio do desenho e da pintura. Hoje, na fase adulta, tornou-se uma tatuadora especializada em peles negras, criando técnicas específicas que atendam de forma adequada tecidos mais melânicos. Além disso, tem se aventurado no grafite urbano e planeja abrir um centro para formação de jovens na periferia do Rio de Janeiro.
Filha de uma professora de educação infantil, Prado sempre teve acesso a materiais artísticos dentro de sua própria residência, como tintas, sprays, cartolinas e papéis coloridos e texturizados. Com o incentivo da mãe, a pequena carioca deixava a imaginação correr em seus desenhos nas folhas de sulfite. No entanto, ainda que a criatividade fluísse em todas as fases de sua vida, a jovem nunca viu a arte como uma possibilidade profissional.
Após deixar o ensino médio, Prado ingressou na universidade de arquitetura e urbanismo. Porém, pouco tempo depois, ela precisou deixar o curso devido a dificuldades financeiras e logísticas. Como rota alternativa, em 2016, foi trabalhar na área administrativa do Rioink, um estúdio de tatuagem localizado no bairro do Flamengo, Zona Sul do Rio de Janeiro. “Na época, o pai da minha filha, hoje ex-companheiro, já era tatuador. Fomos trabalhar juntos. Eu era a responsável pela parte administrativa, cuidava da recepção dos clientes e dos envios orçamentários”, explica.
Com o passar do tempo, os colegas de trabalho começaram a perceber o interesse de Prado nas artes visuais. Assim, estimularam a jovem a desenhar seus primeiros traços, de forma experimental. “70% de tudo o que eu sei sobre tatuagem, aprendi olhando e vendo outros profissionais trabalharem. Eu fazia muitas perguntas e me interessava pelo estilo do negócio. Até que comecei a tatuar por conta própria”, diz.
O empreendimento solo veio em 2018. A carioca conta que a principal motivação para seguir essa profissão, além do amor pela arte, foi ter mais flexibilidade para cuidar de sua filha, na época com dois anos. “Meu medo era não poder vê-la crescer e não acompanhar cada fase da sua infância. Então escolhi a tatuagem para ter um pouco mais de tempo com a minha família”, detalha.
No início, Prado investiu apenas R$ 450 no primeiro negócio. O valor foi utilizado para comprar equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras e luvas. A máquina e tinta de tatuagem, assim como o espaço, foram emprestados pelo estúdio onde ela trabalhava.
Até 2021, a carioca produziu diversos estilos de tatuagens, feitas em estúdios colaborativos. “Os meus primeiros três anos foram voltados para um estilo mais comercial, eu fazia o que aparecia. No entanto, eu passei a sentir a necessidade de escolher uma linha única de trabalho, um estilo que eu fosse reconhecida e me desse destaque”, relata. Foi quando, em 2022, Prado passou a desenvolver tatuagens específicas para peles negras (pretas e pardas).
“Comecei a estudar mais sobre pigmentação, colorimetria e alto contraste de uma arte feita em pele negra. A arte em uma pele com mais pigmento e melanina precisa de um contraste maior, então fui buscar técnicas e mais conhecimento sobre isso. Afinal, o meu trabalho é permanente, ficará para sempre na pele do cliente”, explica.
Ao se aprofundar nesse novo estilo, a carioca percebeu uma lacuna existente no mercado: a falta de representatividade negra no universo da tatuagem e poucas referências de como se tatuar peles mais melânicas. A partir de seus estudos, investiu R$ 10 mil em materiais que pudessem trazer melhores resultados para sua nova forma de atuação.
Thaina Prado é especialista em tatuar peles negras
Divulgação
“Eu comecei a usar uma máquina de tatuagem e tintas importadas da Alemanha, pois esses materiais agridem um pouco menos a pele. Quando estamos trabalhando com uma pele de mais melanina, temos que nos atentar para não machucar o tecido e não manchá-lo. Então, em meu processo criativo, estudo o tom de pele do cliente, para saber o grau de contraste e sombras que vou precisar na tatuagem. Estudo também o corpo, para ajustar os desenhos na pele da pessoa”, conta
Tatuagem de Thaina Prado
Divulgação
Conforme se firmou nesse nicho, Prado começou a fazer viagens a trabalho, atendendo clientes em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Salvador, atuando sempre em estúdios e espaços colaborativos. Já no Rio de Janeiro, a carioca trabalha em um estúdio privado, situado no Largo do Machado, também na Zona Sul, ao lado da amiga e também tatuadora Mabi Areal.
Em média, ela realiza cerca de duas tatuagens por semana, com um tíquete médio de R$ 1,5 mil a R$ 2,1 mil. Por mês, o faturamento mensal é de cerca de R$ 10 mil, alcançando R$ 20 mil no final de ano, época de alta temporada.
Grafite e arte urbana
Paralelamente às tatuagens, Prado decidiu se aventurar no grafite. No início deste ano, foi convidada a integrar o edital “Cores do Brasil”, realizado pela Prefeitura do Rio, VLT Carioca, Instituto CCR e a Visionartz, que teve como proposta espalhar, por meio de artistas cariocas, grafites por inúmeros muros pelas ruas do Rio de Janeiro.
“Eu não tinha experiência com grafite, só rabiscava no meu iPad, mas me arrisquei e me inscrevi para participar desse edital. Eu pintei um muro de aproximadamente 4 metros de altura. Foi um projeto que pagou entre R$ 4 mil a R$ 20 mil para os artistas selecionados, a depender do tamanho da obra e do muro a ser pintado. Foi uma experiência única, vi que tenho outras possibilidades artísticas e criativas para além da tatuagem. Isso me enriqueceu como profissional”, conta.
Grafite realizado por Thaina Prado
Divulgação
Entre 2025 a 2026, Prado pretende lançar, ao lado de sua companheira, Zana Goes, o projeto “Depois de Nós”, no bairro Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio. A ação terá como objetivo capacitar jovens nos quatro segmentos artísticos do hip hop: breaking, grafite, DJ e MC. Com aulas de dança, produção cultural e musical. A iniciativa deve contar com captações via leis de incentivo. Até o projeto sair do papel, ela continuará focada nas tatuagens.
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