Itaú lança centro de pesquisa com foco em IA, computação quântica e tecnologias emergentes
Iniciativa envolve parceria com dez universidades, como Stanford, MIT, USP e UFG; objetivo é transformar pesquisa em soluções aplicadas Como parte da estratégia para acelerar o desenvolvimento de tecnologias emergentes, o Itaú Unibanco anunciou nesta quinta-feira a criação do Instituto de Ciência e Tecnologia Itaú (ICTi), uma entidade sem fins lucrativos voltadas à pesquisa aplicada. Inteligência artificial e computação quântica estão entre os áreas estratégicas do centro, que também tem frentes em neurociência, robótica e realidade estendida.
A proposta reúne em uma mesma estrutura, com corpo diretivo formato por executivos do banco, as parcerias científicas que o Itaú já mantém com universidades no Brasil e no exterior, como o Massachusetts Institute of Technology (MIT), a Universidade de Stanford, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de Goiás (UFG).
Lançado com 50 pesquisas em curso, sendo 37 em inteligência artificial e 13 em computação quântica, o ICTi envolve a parceria com 80 pesquisadores. Nesta fase, participam dez instituições acadêmicas, nacionais e internacionais, além da Fundação Itaú. O objetivo é expandir a rede no futuro.
O banco não revela quanto investe no Instituto. O movimento se soma a outras ações recentes para reforçar a frente de inovação. Em 2024, o Itaú lançou um superapp com integração de serviços financeiros e funcionalidades baseadas em IA, como o Inteligência Itaú. Desde 2019, o número de funcionários na área de tecnologia do banco cresceu 140%, chegando a 17,5 mil pessoas — o equivalente a 20% do quadro total.
A apresentação do Instituto foi feita no Centro de Ciência de Dados (C2D) da USP, que tem desde 2018 uma parceria com o banco. Sem uma sede única, o ICTi terá a estrutura distribuída entre universidades parceiras, com coordenação administrativa em São Paulo.
Uma dos responsáveis pelo Instituto, Carlos Eduardo Mazzei, diretor de tecnologia do Itaú Unibanco, diz que o objetivo é fomentar soluções aplicáveis de tecnologias emergentes, ainda de baixa maturidade prática, como os algoritmos quânticos.
“O que a gente vinha observando no mercado é um encurtamento do ciclo entre a descoberta científica e a aplicação prática. Nosso foco é gerar impacto real, para o banco e para a sociedade”, afirma Mazzei. “Nem tudo o que se faz no instituto vai virar produto. Mas esse exercício de experimentação é fundamental.”
Uma das frentes do instituto prevê a concessão de bolsas para pesquisadores em diferentes níveis de formação, da iniciação científica ao doutorado. As parcerias com as instituições de ensino seguem modelos variados, de acordo com o Itaú, definidos conforme o tipo de a política de remuneração e propriedade intelectual de cada universidade.
“Cada parceria tem uma natureza própria. Há desde acordos para desenvolvimento de protótipos até colaborações mais voltadas à pesquisa básica. É uma via de mão dupla”, explica o diretor de tecnologia do Itaú.
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Setor privado e academia
Além de MIT, Stantord, USP e UFG, integram o centro também a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade de Brasília (UnB).
O modelo do Instituto prevê diferentes níveis de maturidade tecnológica — a chamada escala TRL (Technology Readiness Level) — e três formatos de bolsas remuneradas, voltadas a pesquisadores desde a iniciação científica até o doutorado, em parceria com instituições de ensino do Brasil e do exterior.A definição dos projetos, parte tanto de demandas da indústria quanto de propostas da academia.
Anderson Soares, coordenador do curso de Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (UFG), que abriga o Centro de Excelência em Inteligência Artificial (CEIA), e mantém parcerias com 67 empresas, entre grandes companhias e startups, avalia que a aliança de setor privado e academia é importante para equilibrar a pesquisa livre e profunda com demandas concretas do setor produtivo.
“Realmente é algo de mão dupla. Em 15 anos dentro da universidade, posso dizer que os projetos de maior impacto que a gente fez, não foram ideias nossas, foram demandas que vieram de parceiros externos”, avalia o professor. “A liberdade criativa do cientista é um aspecto importante, mas essa interlocução com os parceiros externos é o que nos leva a questionar se a gente tem algum conhecimento que pode agregar a uma questão que veio de fora.”