Irmãos criam cervejaria artesanal no RS e homenageiam personalidades negras históricas nas embalagens
A Cervejaria Implicantes foi fundada em 2018, em Porto Alegre (RS). Atualmente, os produtos são comercializados no Bar Mocambo, estabelecimento que também pertence à marca A paixão pela cervejaria sempre foi o elo entre os irmãos gaúchos Daniel Dias, 35 anos, e Diego Dias, 37. Inicialmente, eles se dedicavam a criar a bebida como um hobby, explorando sabores de forma experimental. Com o tempo, perceberam que a atividade poderia se transformar em oportunidade de negócio. Assim, em 2018, no Dia da Consciência Negra, decidiram fundar a Cervejaria Implicantes, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Atualmente, os dois lideram o empreendimento ao lado dos sócios, Marcelo Pires, Ricardo Pires e Thiago Rosário. Cinco tipos de cerveja são produzidos em uma fábrica terceirizada e comercializados no Bar Mocambo, também pertencente à Implicantes.
Daniel conta que ele e o irmão não se sentiam representados nos eventos de cervejarias em Porto Alegre (RS) e achavam que não eram vistos como público-alvo nesse tipo de negócio. “Em 2018, tivemos a oportunidade de adquirir uma fábrica e fundamos a Implicantes. Queríamos homenagear a nossa história por meio da marca, por isso, começamos a estampar as cervejas com os rostos de pessoas negras que são referências importantes”, explica o sócio-fundador.
No primeiro ano, foram investidos R$ 230 mil. Nessa fase inicial, os irmãos e seus parceiros de negócios se dedicaram a aprofundar seus conhecimentos sobre o universo da cervejaria, realizando cursos técnicos sobre fabricação e comercialização.
A fábrica não era apenas o local de produção das cervejas da marca, mas também um espaço onde outros empreendedores negros podiam divulgar seus trabalhos. Segundo o sócio Marcelo Pires, 25 anos, afroempreendedores usavam esporadicamente o lugar para vender roupas, oferecer serviços de tranças de cabelo e comercializar objetos artesanais.
Sócio Marcelo Pires
Rafael Muller
“Para além do nosso produto final, nossa proposta sempre foi fortalecer os negócios de pessoas negras. Fazendo ações afirmativas e parcerias com comunidades quilombolas locais. Abrimos nossas portas para que outros afroempreendedores também pudessem vender e crescer em seus negócios”, conta Marcelo.
Em meados de 2022, com a crise sanitária da covid-19, os empreendedores decidiram fechar a planta fabril. “Tínhamos uma fábrica e não estávamos mais vendo lucro, então decidimos pausar a produção das cervejas e focar apenas em fazer conteúdos para as redes sociais. Alimentando o nosso histórico e o propósito do nosso negócio”, diz Daniel.
A marca retomou suas operações em 2023, desta vez, com uma fábrica terceirizada. Como alternativa à unidade própria, os sócios decidiram abrir o Bar Mocambo, um pequeno espaço onde agora as cervejas são comercializadas.
“Optamos por seguir em um formato de negócio menor, mas que pudesse nos proporcionar mais lucro e rentabilidade. Não adiantava termos uma mega operação em fábrica, sendo que os custos eram altíssimos. Então a proposta do Bar Mocambo é continuar atendendo o consumidor final, mas de forma que seja mais rentável para nós. Porque a produção de cerveja, como os maquinários e insumos são muito caros. Então, vimos em uma fábrica terceirizada uma chance de continuarmos com o negócio”, explica Daniel.
O Mocambo vende cervejas e petiscos. O faturamento mensal do negócio é de R$ 50 mil, e, segundo Daniel, 80% das receitas vêm das vendas de cerveja, vendidas a partir de R$ 10. Os produtos são estampados com os rostos de personalidades negras históricas, como Luís Gama, Tia Ciata e Maria Firmina dos Reis.
Produtos da Cervejaria Implicantes
Rafael Muller
Embora o espaço seja menor do que a fábrica própria anterior, o propósito da Cervejaria Implicantes e do Bar Mocambo continua o mesmo: fomentar o empreendedorismo negro gaúcho.
Fachada do Bar Mocambo
Reprodução/Instagram
“Somos um espaço democrático e queremos que as pessoas se sintam acolhidas por aqui. Continuamos com as ações afirmativas e abrindo as portas para que empreendedores negros utilizem o nosso espaço”, reforça Marcelo. Para o futuro, os sócios esperam ir para um espaço maior.
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