Integração cultural é maior desafio em fusões e aquisições de redes franqueadoras
Executivos de marcas como Spoleto, Burger King, BR Mania e iFood debateram tema em evento na Bahia As operações de fusões e aquisições seguem em alta no mercado brasileiro. Só no segundo trimestre de 2024, foram realizados 426 M&A, segundo a KPMG, um crescimento de quase 17% em relação ao mesmo período do ano passado. Cada vez mais, redes franqueadoras estão protagonizando esses movimentos, como Nestlé e Grupo CRM (Kopenhagen, Brasil Cacau), no fim do ano passado, e Arezzo e Soma e a Zamp (Burger King) com a Subway e Starbucks, neste ano.
O tema abriu a ABFCon, evento anual da Associação Brasileira de Franchising (ABF), que reúne mais de 600 congressistas, entre franqueadores, franqueados e fornecedores na Ilha de Comandatuba, em Una (BA).
A Zamp, que é máster-franqueada das redes Burger King e Popeyes e, recentemente, assumiu a gestão nacional do Subway e da Starbucks, diz que os movimentos de M&A do grupo são “ora proativos, ora oportunísticos”, e que os dois mais recentes se encaixam na segunda definição. “Atinge o critério de criação de valor a longo prazo”, disse Gabriel Guimarães, CFO da Zamp, durante o painel.
Já é público que a Zamp tem uma agenda de consolidações para os próximos anos. Guimarães, inclusive, disse que a empresa reviu o modelo de incorporações de negócios, para ter expectativa financeira menos focada no curto prazo. “Quando se coloca matemática à frente do conceito, a empresa se vê obrigada a fazer a integração o mais rápido possível para ver algum sentido”, diz.
Ele não detalhou quais desafios vê na integração de Subway e Starbucks. Ambas eram geridas pela SouthRock, que está em recuperação judicial desde o ano passado. A rede de lanchonetes, que opera com franquias, já teve algumas idas e vindas no mercado brasileiro.
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No quesito desafios no processo de realização de M&As, aliás, a integração cultural entre os agentes envolvidos na negociação foi apontada como o principal deles. Na visão dos participantes, porém, a diligência passou a ganhar velocidade com a ajuda da tecnologia.
Tom Moreira Leite, presidente da ABF e também CEO do Grupo Trigo, dono do Spoleto, conta que o tópico foi uma das preocupações quando a empresa fez a aquisição do antigo Trendfoods, detentor de China in Box e Gendai, em 2021. “Temos um ‘jeitão’ de administrar que nos traz conforto e que nos fez chegarmos aonde chegamos”, diz. De acordo com Leite, um passo fundamental foi “ganhar a confiança do time de operações”. “A cultura vai se transformando e virando verdade no dia a dia”.
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A amarração dos contratos é outro cuidado especial e precisa prever o potencial “descasamento”. Natália Cid, CEO da BR Mania, operada pela Vibra, diz que precisou desfazer um contrato recentemente. Segundo ela, como o texto era bem definido, o processo não foi difícil como imaginava que seria.
A executiva não chegou a detalhar sobre a qual operação se referia, mas a Vibra encerrou, no ano passado, uma joint-venture que tinha com a Americanas — a Vem Conveniência, criada para a gestão das lojas Local e BR Mania. Na ocasião, a Vibra pagou R$ 192 milhões à Americanas pelo distrato.
No iFood, inovação vem antes e sinergia depois
Diego Barreto, CEO do iFood, também participou do painel e trouxe outra visão sobre M&A. A empresa de tecnologia já esteve envolvida em quase 50 operações de aquisição. “Despriorizamos a integração”, diz. De acordo com ele, isso seria “acelerar um processo que tira o foco da empresa”. Barreto ainda diz que a sinergia é importante “como um elemento final, mas não como o primeiro passo”.
De acordo com ele, o critério principal de escolha é olhar para empresas “que permitam inovar a partir delas”. O CEO menciona como exemplo a aquisição do SiteMercado, em 2020, que permitiu à plataforma evoluir no canal supermercado.
Barreto comentou que o iFood deve anunciar investimentos em breve, com foco em farmácias e supermercados. Como tendência, ele aposta na mudança de interfaces, que passam por um “processo sistemático de evolução” por conta da inteligência artificial e que podem culminar até no desuso de aplicativos como os conhecemos. “Hoje, 20% dos pedidos do iFood não são mais via aplicativo”, diz.
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