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Especialistas em recursos humanos explica o que os termos do vocabulário corporativo revelam sobre a relação entre empresas e profissionais

Especialistas em recursos humanos explica o que os termos do vocabulário corporativo revelam sobre a relação entre empresas e profissionais


De quiet quitting a hush trips, expressões em inglês ganham espaço no ambiente corporativo e indicam transformações profundas na cultura de trabalho Divulgação
PressWorks
Termos como “quiet quitting” e “ghosting”, que antes eram restritos a discussões acadêmicas ou nichos da internet, hoje fazem parte do vocabulário cotidiano de muitas empresas. Mas por trás da popularização dessas expressões em inglês está um movimento maior: o de transformação nas dinâmicas de trabalho e na relação entre profissionais e organizações. A tendência é analisada por Caio Prates e Guilherme Melo, cofundadores da Banana Jobs , time de recrutamento especializado em startups e empresas de tecnologia. “O surgimento e a popularização dessas expressões refletem mudanças profundas nas relações de trabalho. Elas são resultado de uma combinação de fatores: esgotamento emocional, desalinhamento entre discurso e prática nas empresas e, claro, a digitalização das relações, que facilita o distanciamento e evita confrontos diretos”, afirma Guilherme.
Nos últimos anos, surgiram novos termos que descrevem estratégias silenciosas e, muitas vezes, defensivas adotadas por profissionais. É o caso de career cushioning, prática de buscar novas oportunidades ou se qualificar discretamente, como forma de se proteger de uma possível demissão, mesmo estando empregado. Já o boomerang employee define quem sai de uma empresa e volta depois, muitas vezes recontratado com novas condições.
Entre as estratégias mais discretas das empresas está o quiet hiring, quando uma vaga é preenchida sem contratação formal, seja por realocação de colaboradores ou uso de freelancers. Já a expressão The Great Resignation define o êxodo em massa observado no pós-pandemia, especialmente nos EUA, quando milhões deixaram seus empregos em busca de propósito e bem-estar.
Segundo Caio, essas mudanças revelam um novo contrato simbólico entre empresas e colaboradores. “O modelo baseado em estabilidade está dando lugar a uma lógica de reciprocidade e flexibilidade. A pandemia acelerou essa mudança ao forçar uma reavaliação do papel do trabalho na vida das pessoas. Hoje, os profissionais querem mais sentido e coerência”, analisa.
Essa busca por equilíbrio tem também um lado sombrio, perceptível em expressões como workplace burnout, que descreve o esgotamento causado pelo excesso de pressão e baixa valorização. Ou ainda o resenteeism, quando o profissional permanece na empresa, mas demonstra sua frustração com queda de produtividade e desengajamento passivo. “É um sinal claro de que os modelos tradicionais de gestão estão desgastados. Muitas empresas ainda operam com foco no controle, e não no diálogo”, aponta Guilherme.
Um fenômeno cada vez mais citado entre gestores é a productivity paranoia: a desconfiança de líderes sobre a real produtividade das equipes remotas, mesmo com dados positivos. “Isso mostra como a confiança ainda é um desafio. Em vez de controlar, precisamos formar lideranças preparadas para conversar, escutar e ajustar expectativas com empatia”, reforça Caio.
Outro termo em ascensão é o job ghosting, quando o candidato desaparece do processo seletivo sem justificativa — prática antes atribuída apenas às empresas. Já o hush trips descreve situações em que funcionários remotos viajam sem comunicar a empresa, mantendo a aparência de normalidade. “Tudo isso está conectado à falta de comunicação clara e de ambientes seguros para o diálogo”, comenta Guilherme.
Também se popularizou a expressão Sunday Scaries, o desconforto que surge aos domingos à noite com a proximidade da segunda-feira. Para os especialistas, ela mostra que a saúde mental deixou de ser tabu e virou pauta recorrente dentro das empresas. “A presença desses termos no dia a dia é um alerta para a necessidade de mudança cultural”, diz Caio.
Segundo Guilherme, comportamentos como o career cushioning e o boomerang employee mostram que o profissional atual é mais estratégico. “O mercado está mais instável, sim, mas também vemos uma postura mais madura. Os profissionais estão construindo redes, diversificando riscos e tomando decisões com mais autonomia e clareza sobre seus objetivos.”
Embora algumas expressões possam sair de moda, os especialistas acreditam que os comportamentos que elas representam vieram para ficar. “Esse vocabulário é um termômetro do clima organizacional. Mesmo que os nomes mudem, as demandas por autonomia, propósito e respeito vão continuar moldando o futuro do trabalho”, conclui Caio.

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