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Equilíbrio entre vida pessoal e a profissional é maior desafio para empreendedoras

Equilíbrio entre vida pessoal e a profissional é maior desafio para empreendedoras


Estudo do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME) indica que economia do cuidado sobrecarrega as mulheres à frente de negócios Equilibrar a vida pessoal e a profissional é o maior desafio para 43% das mulheres donas de empresas, de acordo com o estudo anual “Empreendedoras e Seus Negócios 2024”, realizado pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME). Quase metade — 49% — delas não consegue dividir tarefas, seja no seu negócio, seja em casa.
“A economia do cuidado não é reconhecida, não é compartilhada nem é valorizada financeiramente. É triste constatar que essa questão ainda precise de ação, divulgação e trabalho, porque afeta fortemente as empreendedoras”, afirma Ana Fontes, presidente da Rede Mulher Empreendedora. Foram entrevistadas 2.141 mulheres, das quais 1.810 têm negócios atualmente, 123 já tiveram e 208 não têm empresas, mas pretendem ter.
A pesquisa aponta que 73,1% são mães. Dessas, 31,3% tiveram filhos depois de criar seus negócios. Mari Sciotti, chef e fundadora do restaurante vegetariano Quincho, em São Paulo, diz que estar mais disponível para os três filhos foi o que a motivou a empreender. “Mas, com o tempo, vi que ser dona do meu tempo era algo relativo, já que sempre há lugar para cobrança”, afirma. “Meu trabalho só é possível porque tenho um marido que realmente divide todas as demandas comigo.”
O empreendedorismo não traz necessariamente mais flexibilidade para a mulher, pondera Fontes. “Não significa que ela tenha menos trabalho ou que a economia do cuidado impacte menos o seu negócio. Essa ilusão cria mulheres sobrecarregadas e exaustas emocionalmente, fisicamente e mentalmente”, diz a presidente da RME.
Há uma concentração de renda nas regiões Sudeste e Sul e entre as empreendedoras brancas. No Norte, por exemplo, 84,4% das mulheres têm renda de até R$ 2,4 mil; no Nordeste, são 66,5%. Já no Sudeste, a proporção é de 39,3%. Os dados também mostram que pretas e pardas compõem 61,2% dessa faixa de renda em todo o país. “As mulheres continuam empreendendo muito mais por necessidade. E, quando são pretas e pardas, faturam menos, se formalizam menos e, consequentemente, têm mais dificuldades do que as mulheres brancas”, aponta Fontes.
A gestão financeira aparece como o principal desafio de quem já empreendeu e hoje não tem mais um negócio, o que, para a presidente da RME, mostra uma evolução do ecossistema. “As mulheres, por construção social, entendem que dinheiro é assunto de homem. Mas estão percebendo que isso pode acabar com seus negócios se elas não se envolverem”, diz.
A empreendedora Toalá Marques, fundadora da loja especializada em tecidos africanos Casa das Kapulanas, conta que a marca decolou quando ela aprendeu a importância da gestão financeira. “Eu sabia gerar dinheiro, mas não gerir”, afirma. De acordo com ela, sistematizar a gestão foi essencial para garantir um caixa saudável. A empresa teve R$ 1,2 milhão de faturamento em 2023.
Entre as ferramentas que poderiam ajudar o negócio a crescer, as mulheres acreditam principalmente no melhor acesso a crédito (52,9%) — o item aparece em quinto lugar como um dos desafios, com 27% das respostas.
Beleza, estética e bem-estar é o ramo de atividade com maior número de empreendedoras (21,5 %). Em seguida, vêm Alimentação e gastronomia (19,1%) e Vestuário e acessórios (15,6%). “É natural começar um negócio baseado no que está ao seu redor. A mulher tem casa, família, filhos, comidas, roupas e cosméticos; vai empreender com isso”, diz Fontes. “O importante é buscar inovações dentro das áreas que domina. A mulher deve olhar para o universo feminino e pensar no que pode criar para ajudar outras mulheres.”
A farmacêutica Arina Gabriela criou a beautytech Seja Sua Pele quando percebeu que o mercado não se preocupava em ofertar produtos e serviços específicos para pele negra. “Estudei o que esse tipo de derme precisava e vi que faltava nanotecnologia. Quando o nosso produto foi bem aceito, vi que a inovação me ajudaria a explorar essa oportunidade”, diz a empreendedora, que vende produtos de skincare e proteção solar para adultos e crianças. “Muitas vezes achamos que só as grandes empresas podem inovar ou que tudo que precisa existir já existe, mas não é verdade.”
Arina Gabriela, criadora da beautytech Seja Sua Pele; Mari Sciotti, fundadora do restaurante Quincho; e Toalá Marques, fundadora da Casa das Kapulanas
Divulgação
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Para Fontes, que também é presidente do Women 20, grupo de engajamento que discute questões relacionadas a mulheres dentro do G20, a solução para os obstáculos apontados pelo levantamento passa por educação, inovação e acesso a capital. Ela também sugere a implementação de uma política de compras públicas inclusivas para mulheres e o aumento do uso de financiamento misto, ou blended finance, que mescla investimentos públicos ou de fomento e privados.
Em relação à economia do cuidado, ela entende que a pauta necessita de mudanças estruturais. “Temos que repensar o cuidado de forma mais ampla para mudar a situação das mulheres em todos os aspectos.” De acordo com um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2018, cerca de 16,4 bilhões de horas diárias foram dedicadas ao trabalho não remunerado de cuidados no mundo, o equivalente a 2 bilhões de pessoas em tempo integral.
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