Empreendedora em tratamento oncológico cria roupas especiais para pacientes com câncer
Ao lado de amiga, a empresária transformou a jornada desafiadora da doença em propósito de vida, ajudando outras pessoas na mesma situação Samantha Leal, 46 anos, jornalista e empresária de tecnologia, enfrenta uma batalha difícil contra o câncer de mama desde 2015. Há três anos, a doença avançou para os pulmões, tornando o tratamento mais desafiador.
Mesmo diante do quadro, ela transformou sua experiência em algo positivo: com a amiga Daniela von Hertwig Meyer, 40, fundou a Santa Agatha OncoClothes, uma marca de roupas funcionais e confortáveis voltada para pessoas que precisam se submeter a quimioterapia e hemodiálise, entre outras situações.
Vizinhas em Florianópolis, Leal e Meyer empreendem juntas desde 2017. Elas já são parceiras em outros projetos, incluindo uma iniciativa de blockchain. No início deste ano, assumiram mais uma empreitada no negócio que oferece soluções para os desafios de um tratamento oncológico.
“Tenho quatro irmãs que também nos ajudam bastante: uma cuida do Instagram, outra das artes, uma ajuda na logística e outra dá ideias”, comenta Leal, CEO da empresa, que é mãe de dois filhos e madrasta de outros dois. Sua sócia responde pelas partes administrativas e marketing.
Tudo começou por acaso, durante uma viagem à Itália, em abril. Àquela época, vinha acumulando efeitos colaterais de medicação (dores articulares, fadiga, enjoo e diarreia) e da menopausa, que suprimiu hormônios do organismo.
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A situação a fez mergulhar numa fase cinzenta. “Um dia, acordei e a menopausa tinha chegado como um soco no estômago. Entrei em depressão que parecia não ter saída. Nenhum tratamento psicológico ou antidepressivo trazia alívio”, relembra a empreendedora.
Com o sentimento de angústia, decidiu escrever uma carta ao Vaticano e contar sua história, na esperança de participar de uma audiência para bênção do papa, tendo sido surpreendida com uma resposta positiva. Não pensou duas vezes e adquiriu as passagens no mesmo dia, ainda que sem dinheiro disponível.
Foi na primeira fase da viagem, na companhia da mãe, que ela se sentiu inspirada para dar vida à OncoClothes.
Numa parada anterior à Roma, em Milão, visitou a catedral da cidade, a Duomo di Milano. Ali, ela se emocionou e começou a chorar diante da imagem de uma santa, um comportamento inusual. Quando viu quem era retratada, descobriu ser Santa Agatha, padroeira das mulheres com câncer de mama.
“Foi nesse momento que percebi que a viagem seria transformadora. Na hora, comecei a pensar em roupas que poderiam facilitar a vida de quem está em tratamento oncológico e ali mesmo comecei a desenhá-las no meu caderninho de sonhos,” conta.
O encontro com o papa aconteceu alguns dias depois, não tão privativo quanto ela esperava. “Devia ter umas 1 mil pessoas lá, mas foi possível vê-lo bem mais de perto do que em situações normais. Ele disse o que eu precisava ouvir e entendi que precisava realmente ter ido até lá”, relata Leal.
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Diferenciais da coleção
Desde o princípio, a ideia é desenvolver vestimentas práticas, bonitas e confortáveis para quem precisa passar pelos exames e sessões de tratamento, sem precisar lidar com o desconforto de aventais hospitalares ou manobras complicadas com as roupas.
De volta ao Brasil em maio, a empreendedora colocou em prática seu plano. Com ajuda da modelista Suzana de Amorim, criou peças-piloto e começou a usá-las em suas próprias visitas ao hospital. As vestes logo atraíram a atenção de outros pacientes e os primeiros pedidos começaram a aparecer. Em agosto, ela lançou o perfil da marca no Instagram para divulgar os lançamentos.
A jornalista conta que a produção da Santa Agatha OncoClothes é pensada para pessoas que precisam de acesso rápido e fácil. “As peças de mangas longas trazem zíperes para medicação e exames nas laterais, sem a necessidade de fazer malabarismos para tirar a blusa ou erguer a manga. E todos os modelos têm zíper nos dois lados da gola, para o cateter de quimio”, explica.
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A marca oferece moletons (em dois modelos), malhas e joggers (para quem pratica atividades físicas), com tamanhos variados, disponíveis para homens e mulheres. Além disso, estão sendo planejadas versões para cadeirantes, protéticos, crianças e com o uso de outros materiais, como velcro, para exames de imagem que impossibilitam a presença do metal dos zíperes.
Outro detalhe cuidadosamente pensado envolve os tecidos: as roupas são produzidas com materiais leves, sustentáveis e, sobretudo, confortáveis, como algodão 100% e dry-fit com proteção solar UV50. A intenção é que os pacientes possam usá-las não apenas durante o tratamento, mas no dia a dia. No frio habitual do hospital, por exemplo, os moletons passam a ser úteis até mesmo nos dias quentes.
A produção ainda é terceirizada e artesanal, com a confecção sendo realizada pelo Ateliê Suzana de Amorim. Samantha investiu R$ 30 mil do próprio bolso para colocar o projeto em pé e, antes mesmo do lançamento oficial, previsto para mês que vem, a Santa Agatha já conta com 50 peças vendidas, 200 em produção e outras 300 encomendadas. Os preços variam de R$ 135 a R$ 215.
As sócias explicam que a data de estreia para o mercado está alinhada ao Outubro Rosa, mês de conscientização para o controle do câncer de mama. Para isso, a marca firmou parcerias com instituições como a Rede Feminina de Combate ao Câncer de Governador Celso Ramos e a Avoc (Associação de Voluntários do Cepon – Centro de Pesquisas Oncológicas), com doação de produtos para que levantem recursos.
“É uma forma de retribuir tudo o que eles fizeram por mim. Sem eles, eu não teria conseguido o meu medicamento de alto custo na justiça. É esse remédio que me faz ter qualidade de vida”, depõe.
Além das vendas pelo Instagram, a empresa pretende lançar uma loja online no próximo ano. A meta é alcançar R$ 500 mil em receita até janeiro de 2025.
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