Empreendedora aposta em cosméticos naturais de olho na preservação da Amazônia
A Amakos tem linhas para o rosto e o corpo e deve lançar produtos para cabelo, spa e para quem pratica esportes até o fim do ano A Amakos – Ama (Amazônia), Kos (Cosméticos) – é filha da pandemia. Soon Hee Han, 66 anos, fundou a marca de cosméticos em 2021, quando sentiu vontade e necessidade de trabalhar em prol da causa climática, tão discutida naquela ocasião. “Minha ideia sempre foi fazer a diferença para a Amazônia. Ainda que seja uma gota no oceano, dentro de um movimento maior, podemos causar impacto”, diz.
Não é a primeira vez que a empreendedora se dedica ao mercado de beleza e bem-estar e ao trabalho baseado em propósito. Ela conta que, nos anos 2000, teve uma doença grave e se curou por meio de práticas orientais. Essa experiência a aproximou da cultura asiática: “Mesmo sendo filha de coreanos, imigramos para o Brasil quando eu era bem pequena. Além disso, morei na Europa e nos Estados Unidos, minha formação foi ocidental”, explica.
Nas duas últimas décadas, Soon Hee Han foi monja budista (não é mais) e criou uma rede de spas que, de acordo com a empresária, foi uma das maiores do Brasil e chegou a ter 28 unidades – ela vendeu para um fundo de investimentos em 2015. “Na época, fiquei muito próxima da indústria do bem-estar”, conta. Formações e especializações da empresária nas áreas de aromaterapia, fitoterapia, biocosmética e perfumaria funcional ajudaram a alavancar o negócio.
Depois disso, aproximou-se da indústria da cultura local, em Curitiba (PR). “Atuei com moda local autoral, promovendo desfiles, e com a alimentação, promovendo chefs iniciantes que trabalhavam com ingredientes-raiz. A meta era resgatar a história por meio de movimentos culturais, mas também com objetivos financeiros”, resume.
Sempre em ebulição
Criar negócios foi uma constante na trajetória de Soon Hee Han. “Venho de uma família de imigrantes onde a necessidade de empreender e o tino para isso são naturais”, diz.
Por isso, com a crise global provocada pela covid-19, com tempo para refletir e resgatando sua relação com o segmento de bem-estar, Han decidiu retornar à Amazônia para “fazer a sua parte”. Sim, retornar. Porque ela morou em Manaus (AM) logo que seus pais chegaram o Brasil. “Senti que era hora de voltar para ser aquela gotinha, ser a diferença naquele momento pelo qual estávamos passando”.
Han arregaçou as mangas e, fuçando aqui e ali, teve o projeto da Amakos aceito pelo Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), promovido pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), do Governo Federal.
“Entre recursos do PPBio e dos sócios – meus e do meu sobrinho Yuri Han, 34 anos – investimos pouco mais de R$ 5 milhões para iniciar o negócio”, conta Soon Hee Han. Ela explica que a startup começou com um laboratório de P&D e uma fábrica, em Manaus (AM). “É importante a gente produzir para evitar o greenwashing [prática que algumas marcas fazem de “se vender” como sustentáveis para atrair consumidores sem terem pilares de uma cadeia sustentável]”, explica. “A Amakos pesquisa, desenvolve a fórmula, fabrica e comercializa”, diz.
O trabalho não é simples nem fácil. Han intercala temporadas no Sul, onde mora, com imersões na Amazônia: “Passo longos períodos no meio da floresta, fazendo tours aromáticos, vendo como a matéria-prima é coletada, convivendo com os ribeirinhos e vivenciando o empreendedorismo local. São eles que mantêm a floresta em pé, e isso é uma das grandes razões da nossa marca. É importantíssimo que eles fiquem bem e também tenham saúde financeira”, conta Han.
Atualmente, a Amakos trabalha com 20 comunidades, impacta 1,6 mil moradores, cerca de 490 famílias.
“No ano passado, ajudamos a preservar 424 mil hectares de floresta. Sem contar que, ao estimularmos a cultura agroflorestal, com plantações variadas, evitamos a monocultura e incentivamos a biodiversidade”, diz.
Para Han, essa é uma das vitórias da Amakos. “Nosso plano de negócios inclui tornar a Amazônia mais conhecida por meio de produtos cosméticos e de higiene pessoal, com linhas de skincare, capilar, spa e esporte. Acompanhar de perto o trabalho das comunidades e divulgá-lo também importa para nós”, acredita.
A empreendedora explica que a Amakos está no processo de tração (quando uma empresa está mirando o crescimento e explorando o mercado para isso) a caminho de se tornar scale-up (quando uma empresa cresce de forma rápida e sustentável) no próximo ano. A marca passou da fase de MVP (do inglês Minimum Viable Product ou Produto Mínimo Viável) com 11 SKUs e terá vários lançamentos ao longo do ano. O próximo será a linha capilar, que deve ir para o mercado no mês que vem.
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As linhas atuais trabalham com três matérias-primas principais: óleo de cacay (extraído da semente de uma árvore), sangue de dragão (resina extraída de uma árvore) e copaíba (árvore de onde se extrai uma resina). Conta com produtos como séruns, espumas, loções, cremes, balms e óleos para o rosto e para o corpo com diferentes finalidades: hidratação, tratamento de manchas e de acne, cuidados para manter a firmeza e a elasticidade da pele, minimizar rugas etc..
Suni e sua pluralidade
Gabi Marrero
O que vem por aí
Além da linha capilar, Han conta que a Amakos vai lançar uma linha de spa (para o consumidor e para profissionais da área) e uma linha para praticantes de esportes. Com a ampliação do portfólio, o próximo passo é exportar para a Europa, América Latina e Ásia.
“Abrimos vendas em setembro do ano passado, portanto, há menos de um ano. Estamos atuando para tornar a marca mais conhecida e um canal importante para isso é a Casa Amakos, uma loja física que serve como espaço de experimentação em São Paulo (SP)”, conta Soon Hee Han. A marca, que comercializa nesse ponto e por meio de e-commerce, espera faturar R$ 2,15 milhões entre setembro de 2024 a setembro de 2025.
Para a empreendedora, o sonho está se tornando realidade – preservar a Amazônia e levar beleza e bem-estar às pessoas: “Estou feliz. A Amazônia não pode se resumir a algo exótico. Tem de ser conhecida para ser amada”, conclui.