Dia Internacional da Mulher: Expansão do negócio entra na mira de empreendedoras, que ainda enfrentam desafios
Pesquisa do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME) diz que 46,1% das mulheres querem ampliar o negócio; veja dicas para fazer a sua empresa crescer Em 2012, Rosane Argenta, 47 anos, fundou a rede de franquias Saúde Livre Vacinas motivada por uma necessidade pessoal: ao buscar por uma clínica de vacinação em Lucas do Rio Verde (MT), não encontrou nenhuma disponível. “Precisava de vacinas complementares que não tinham na rede pública para os meus filhos”, afirma. Hoje, a empresa conta com 230 unidades, especialmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Segundo a empreendedora, seu principal objetivo ao expandir o negócio é melhorar o acesso a vacinas no Brasil. “A cobertura vacinal no Brasil ainda é um grande desafio, tanto na rede pública quanto na privada. cada uma de nossas clínicas aplica, em média, 500 vacinas por mês. Com mais de 250 unidades, poderíamos aumentar a cobertura vacinal do País em 1%. Esse dado me fez brilhar os olhos”, conta.
Argenta não é a única a trabalhar para fazer crescer o próprio negócio. De acordo com os dados de 2024 do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), 46,1% das mulheres querem ampliar seus empreendimentos.
“Esse é um dado muito relevante, pois a maioria das mulheres é empurrada a empreender porque os ambientes corporativos são hostis para elas”, diz Ana Fontes, fundadora do IRME. “Quando percebem as oportunidades que o empreendedorismo oferece, passam a olhar para seus negócios com inúmeras possibilidades de crescimento.Também percebem que podem participar do ambiente de negócios com algo que criaram e fazem a diferença.”
Expandir um negócio, de maneira geral, tem desafios para ambos os gêneros. Um deles é o acesso a crédito, diz Cintia Martins, consultora de negócios do Sebrae-SP. “Mas as mulheres enfrentam questões mais peculiares, como a necessidade de ter uma rede de apoio e encontrar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Ela ainda pode se deparar com estereótipos relacionados ao papel da mulher no mundo dos negócios”, afirma. A pesquisa da IRME também aponta que equilíbrio entre vida pessoal e a profissional é maior desafio para 43% das empreendedoras.
Parte da solução para os problemas é ter coragem e se preparar para o crescimento. “A empreendedora deve ter uma visão de expansão e coragem. Ouvimos muito a história de empresas que, no momento de expansão, faliram suas operações porque não se estruturam para crescer”, diz Martins.
Quando decidiu crescer, Argenta, da Saúde Livre Vacinas, buscou se preparar o máximo possível. Ela conta que o primeiro passo foi entender se o negócio era viável e aplicável. “Inicialmente expandi com cinco clínicas próprias em diferentes cidades do Mato Grosso, em um período de três anos. Como as distâncias são muito grandes, foi preciso descrever os processos e fazer o treinamento da equipe técnica de maneira minuciosa. Era fundamental assegurar que os clientes teriam acesso ao mesmo atendimento nas filiais que na matriz.”, afirma ela, que iniciou a formatação de franquias, com manuais e processos de treinamento, em 2015.
Quatro anos depois, porém, precisou redesenhar o modelo de expansão do empreendimento — que estava com 25 clínicas. “A ideia inicial era que as franquias fossem abertas em outras clínicas de saúde ou em lojas de rua, mas aconteceu de as pessoas abrirem em shoppings, o que altera os valores de investimento e retorno. Mantivemos toda a parte técnica e de atendimento ao cliente, mas adaptamos o plano de negócio para os diferentes tipos de espaço”, afirma. Hoje, a rede oferece o modelo de clínica confinada (quando ocupa uma sala dentro de uma outra clínica de saúde), em loja de rua e loja em shopping.
A pandemia do coronavírus representou um momento de virada. ”Os profissionais de saúde passaram a identificar a vacina como um negócio. Recebemos muitos candidatos interessados em abrir franquias, e tivemos que fazer uma seleção para aceitá-los”, afirma. “É preciso dar conta de dar assessoria para quem já faz parte da rede, ao mesmo tempo que temos que olhar com cuidado para as pessoas que querem abrir unidades. Precisei contratar uma consultoria para cuidar da parte da expansão.”
Agora, a meta da empreendedora é inaugurar cinco unidades por mês.
Rosane Argenta, CEO da Saúde Livre Vacinas
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Expansão em família
Em 2020, durante a pandemia de covid-19, a manicure Bárbara Nunes, 28 anos, foi demitida do cargo de gerente do salão em que trabalhava. Optou por abrir sua própria esmalteria, o Studio Doutoras, na estação de metrô São Bento, no centro de São Paulo. O que começou por necessidade fez a empreendedora enxergar um grande potencial de expansão.
“A empresa em que eu trabalhava era uma franquia, e eu via muito potencial neste modelo de passar o know-how e ser um canal de crescimento como uma comunidade”, afirma a empreendedora. Para seguir a ideia de expandir por este modelo, ela decidiu se estruturar e abrir mais unidades próprias. “Entrar em uma franquia que ainda não tem franqueado e tem apenas uma loja própria gera uma dúvida”, diz Nunes.
Ela abriu duas unidades, uma em sua cidade natal Palmital, no interior de São Paulo, e outra em Foz do Iguaçu (PR), atualmente geridas pelas suas irmãs Laís Rodrigues Nunes e Emily Giovana Nunes.
A empreendedora finalmente iniciou a a formatação para franquias, em 2022. “Tive que economizar por um ano, porque é um processo caro. Gastei cerca de R$ 50 mil”, diz. O lançamento foi na Feira de Franquias da ABF, em 2024.
Emily Giovana Nunes e Bárbara Nunes, na primeira foto; Laís Rodrigues Nunes e Bárbara, na segunda foto
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Agora, o foco está em vender unidades. “Estamos em meio a negociações. Nosso foco é na cidade de São Paulo, especialmente em estações de metrô”, afirma a jovem, que espera ter a primeira unidade franqueada Rodoviária do Tietê. A meta é fechar o 2025 com 10 lojas vendidas.
Negócio em movimento
Foi a ideia de crescer que fez Mariana Nunes, 42 anos, mudar o nome de sua organização de impacto social. A empreendedora é a criadora do Movimento Rosalina, que nasceu na casa da sua avó como Espaço Rosalina, com rodas de conversa e saraus para mulheres.
Hoje, o movimento reúne mais de 100 mulheres, que participam de eventos de empreendedorismo e feiras para expor seus produtos. Recentemente, a organização expandiu suas iniciativas para disponibilizar atendimento psicológico. Além disso, mantém um espaço fixo na Galeria Barão Velha, onde empreendedoras podem expor seus produtos quinzenalmente.
“Estamos sempre em movimento”, diz a empreendedora, que vive em uma comunidade no bairro de Campo Grande, em Campinas, no interior de São Paulo. “Como passamos a atuar além da casa da minha avó, vimos que faria sentido mudar o nome para um movimento presente em outros lugares. Nada nos impede de estar em diferentes estados.”
Desde a criação, em 2022, o Movimento Rosalina já impactou diretamente mais de 300 pessoas, principalmente mulheres negras da periferia.
Mariana Nunes, fundadora do Movimento Rosalina
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Agora, o objetivo de Nunes é que a organização chegue a cada vez mais comunidades de todo o Brasil. Para isso, ela investe na rede de contatos. “Conseguimos fazer parcerias com outras organizações que estimulam o empreendedorismo ou diretamente com moradoras dessas comunidades, dando uma palestra para falar sobre o movimento. Bato de porta em porta e espalho a palavra do projeto”, diz. “Meu sonho é fazer esse movimento chegar em cada ponta do Brasil.”
Como fazer o seu negócio crescer? Veja 8 dicas
Capacidade financeira
O primeiro passo é garantir que o negócio tenha dinheiro o suficiente para expandir, diz Dariane Fraga, professora da FIA Business School. “Ela deve ter um conhecimento amplo dos resultados de sua empresa e dominando os números. É fundamental que o negócio esteja dando lucro e que ela tenha um volume de dinheiro necessário para esse crescimento”, afirma. “Ao mesmo tempo, tem que considerar se ela terá o valor para pagar empréstimo, se for necessário.”
Análise de mercado
Para crescer, é importante que o negócio tenha demanda relevante para novos mercados, dos seus produtos e/ou serviços, “Uma das maneiras de se descobrir se existe essa oportunidade é por meio, por exemplo, de pesquisas qualitativas e/ou quantitativas. Com elas, é possível entender o comportamento de consumo do seu público alvo, a concorrência direta e indireta e o potencial financeiro, entre outros”, sugere Abkeila Santos, docente da pós-graduação de Gestão de Negócios do Centro Universitário Senac de Santo Amaro.
Nova sede
Caso a empreendedora opte por abrir uma nova unidade física, ela deve fazer uma análise detalhada da localização. Santos sugere que a empreendedora preste atenção especial ao custo do imóvel e ao espaço em si (layout/ambiente agradável, iluminado, boa acústica, etc). Infraestrutura, regulamentações, estacionamento, acessibilidade, concorrentes próximos e expansão futura devem estar nesse estudo.
Foco em marketing
A docente do Senac também sugere ter um bom plano de marketing bem estruturado, com “etapas definidas, com resultados tangíveis, resultados realistas e assertividade na comunicação para alcançar novos clientes e mercados”.
Treinamento de equipe
Santos lembra que a empresa deve promover desenvolvimento contínuo da equipe de colaboradores. “Faz-se ainda mais necessário especialmente num contexto de expansão com aumento de demanda, produtividade, produtos e serviços. Já Martins acrescenta que o cuidado começa desde o momento da contratação, para que a empreendedora tenha tranquilidade de que contratou a pessoa certa e pode delegar funções.
Entregas em mais bairros
Segundo a consultora de negócios do Sebrae-SP, a empreendedora pode considerar expandir os canais de venda sem necessariamente abrir mais uma unidade física. “Ela pode estruturar o setor de logística e entrega para bairros em que enxerga potencial”, sugere.
Tecnologia como aliada
Martins sugere que a empreendedora invista em tecnologia e automação de processos, inclusive para facilitar o atendimento dos clientes. Também é possível usar máquinas para aumentar a capacidade produtiva, indica a professora da FIA Business School.
Adaptabilidade
A consultora lembra que é importante que a empreendedora tenha capacidade de se adaptar caso as estratégias de crescimento não deem certo. “Hoje o mundo exige que todas as pessoas, em qualquer profissão, se adaptem de forma rápida. Às vezes ela tem um apego com o negócio, mas é importante acompanhar indicadores e manter flexibilidade para mudar o que for necessário”, afirma.
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