Dia do Empreendedor: Com tecnologia e propósito, Geração Z dita o futuro dos negócios
Jovens entre 18 e 24 anos já são mais de 20% dos empreendedores do país, e maioria busca “fazer a diferença no mundo” O perfil do empreendedor brasileiro tem ficado cada vez mais jovem. De acordo com um levantamento do Sebrae, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), na última década, o número de empreendedores de 18 a 29 anos de idade cresceu 23% no país.
A Geração Z já representa uma parcela significativa entre os donos de negócios iniciais (nascentes e novos), segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2023, pesquisa que monitora o empreendedorismo em todo o mundo, e que no Brasil tem o apoio do Sebrae. Jovens entre 18 e 24 anos são 20,4% do total, e adultos entre 25 e 34 anos são 22,9%.
A tendência é que essa participação cresça nos próximos anos, uma vez que o Brasil tem 47,7 milhões de empreendedores potenciais, ainda segundo o GEM, com destaque para mulheres e pessoas pretas e pardas, que apresentam maior disposição para abrir negócios.
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Os especialistas consultados por PEGN apontam que a Geração Z tem potencial para transformar o futuro do empreendedorismo, com uma visão mais “destemida, inovadora e atenta a questões como sustentabilidade e diversidade”.
“Hoje, empreender é uma possibilidade de carreira para o jovem e mesmo que ele não empreenda, fica ali com a sementinha de que em algum momento vai abrir seu negócio”, diz Edgard Barki, coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV EAESP.
De acordo com ele, os negócios criados pela Geração Z têm características diferentes, com uma busca maior por se distinguir e uma mais abertura para coisas novas. “O jovem traz esse novo jeito de pensar, com inovação, tecnologia, e tudo aliado a uma visão ambiental de sustentabilidade. Uma visão diferente”, diz.
De acordo com André Spinola, gerente de gestão estratégica do Sebrae, esse empreendedor tem um “maior apetite ao risco” e “um senso de propósito para a vida”. “Ele também tem uma percepção de valor maior para a independência de não querer ter chefe”, destaca.
Tecnologia ajuda a transformar negócios
Ainda acentuado no Brasil, o empreendedorismo por necessidade foi a realidade para a maioria (52%) dos brasileiros com renda de até três salários mínimos, de acordo com a última GEM. Esse foi o caso de João Vitor Martins, de 25 anos, morador do bairro Cruzeiro de Santa Bárbara, zona rural da cidade de São Luís (MA). No entanto, ele conseguiu dar uma guinada no negócio com uma mãozinha da tecnologia.
Martins foi expulso de casa aos 18 anos após assumir sua orientação sexual para sua mãe. Com isso, passou a vender bolos de pote e a trabalhar como atendente de lanchonetes e restaurantes para se sustentar.
Ao observar a preparação dos lanches e pratos em seus empregos, o jovem desenvolveu admiração pela culinária e decidiu, em 2022, começar a vender marmitas no seu tempo livre para buscar uma renda extra. Hoje, o empreendedor maranhense é conhecido nas redes sociais como “Vitor das Marmitas”, tendo transformado essa atividade em seu próprio negócio.
Atualmente, ele vende entre 30 e 40 refeições por dia, com preços a partir de R$ 16, e prepara todos os pratos na cozinha de seu apartamento. Ele posta suas receitas e os bastidores do negócio em um perfil no TikTok, que é acompanhado por quase 15 mil pessoas.
“Eu sempre tive que me ‘desenrolar’ muito cedo, então busquei maneiras de ganhar dinheiro para me sustentar sozinho. Espero que, no futuro, consiga expandir meu negócio, saindo do meu apartamento e abrindo um restaurante self-service em São Luís”, afirma.
Para Spinola, do Sebrae, quando um jovem entra no empreendedorismo por necessidade ele tem menos tempo para se preparar e estudar o mercado, para entender as oportunidades e ter acesso às informações.
“Quanto melhor preparado, maior é a chance de sucesso. Além disso, tem questões culturais também, pois este jovem não terá um repertório de experiências para entender boas oportunidades. Ele vai ter também menos visão porque terá menos base técnica e acesso do que pessoas com melhores situações socioeconômicas”, afirma.
Fazer a diferença no mundo
Pela primeira vez, o GEM sondou outras motivações entre os empreendedores iniciais, além de necessidade e oportunidade. Cerca de 76,5% dos adultos entre 18 e 34 anos responderam que a principal razão de abrir uma empresa é “fazer a diferença no mundo”, seguido por “construir uma grande riqueza ou renda muito alta” (74,2%).
A carioca Thaina Prado, de 29 anos, começou a empreender com tatuagens para pele negra ao buscar algo que visse como um propósito, e se consolidou como uma referência na área. Por mês, o faturamento mensal do negócio é de cerca de R$ 10 mil, alcançando R$ 20 mil no final de ano, época de alta temporada.
A tatuadora Thaina Prado é especializada em pele negra
Divulgação
Agora, ela pretende ampliar os ganhos com um projeto social, o “Depois de Nós”, que visa capacitar os jovens da Cidade de Deus, na Zona Oeste da capital fluminense, nos quatro segmentos artísticos do hip-hop: breaking, grafite, DJ e MC. “Todo mundo diz que o futuro do artista é ser professor e passar os seus ensinamentos para outras pessoas”, comenta.
Foi o propósito também que moveu Fernanda Maria Isaac, de 28 anos, que deixou o jornalismo para “preservar a sabedoria ancestral do crochê”, que aprendeu com suas avós. A jovem fundou o Negra Maria, loja de bolsas, cestos, chaveiros, vasos e porta canecas feitos à base de fios de malha. O faturamento mensal da empreendedora hoje varia entre R$ 3 mil e R$ 6,5 mil, com uma média anual de R$ 48 mil. A jovem também é professora de artesanato e repassa seus ensinamos por meio de vídeos publicados nas redes sociais.
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