Como fazer networking e achar os melhores mentores
Conhecer gente nova pode ser o ingrediente que falta para aproveitar oportunidades e receber conselhos úteis Fazer (e manter) contatos é tão importante que está na lista das dez características de empreendedores de sucesso criada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). “Empreender tem muito a ver com conexão, com estar perto das pessoas para trocar ideias, abrir portas, fazer parcerias. Por isso, o networking é essencial para a evolução do negócio”, concorda Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora e do Instituto RME.
Investir nessa estratégia é um caminho que, de início, leva quem está à frente de um negócio a conhecer pessoas para compartilhar experiências, destravar desafios operacionais e até receber suporte emocional. “Muitas mulheres, especialmente as que empreendem por necessidade, não têm um círculo de apoio estruturado e acesso ao crédito, e isso limita oportunidades”, diz Elaine da Mata, gestora em São Paulo do programa Sebrae Delas.
Ao aprofundar vínculos, avalia da Mata, elas podem contar com a orientação de pessoas experientes que estarão ao seu lado para superar (ou despertar) questões mais profundas do negócio: “Bons mentores trazem diretrizes para correr riscos calculados e reduzir a chance de erros”.
Apesar de todos esses benefícios, construir uma rede de contatos sólida é o terceiro maior desafio para quem empreende – uma dificuldade reconhecida por 44,6% das fundadoras entrevistadas em uma pesquisa realizada em 2021 pela Endeavor, organização global de apoio a negócios de alto impacto, e pelo Distrito, plataforma de inovação.
Para superar essa barreira, trazemos nas próximas páginas um passo a passo de como fazer networking e encontrar bons mentores, conexões essenciais para ter um negócio de sucesso – e longevo.
Ilustração: Yasmin Ayumi
Conhece a ti mesma
Para começar, leve-se a sério como empreendedora. “Muitas mulheres se minimizam dizendo que ‘vendem só uma coisinha’. É preciso assumir o papel de quem comanda um negócio”, diz Lisiane Lemos, presidente do conselho do Instituto Conselheira 101 (focado na ascensão de mulheres negras e indígenas a posições de liderança) e secretária extraordinária de inclusão digital e apoio às políticas de equidade do Rio Grande do Sul. É desse ponto de vista que deve partir uma análise do que está faltando – pode ser aumentar as vendas, fazer novas parcerias ou receber um investimento. Além disso, dedicar-se ao autoconhecimento para entender qual é o seu propósito e o seu diferencial enriquece a conversa com novos contatos. “Quando você for falar com investidores, por exemplo, eles vão querer saber quem é você, o que você faz e por que”, comenta Karina Almeida, gerente de rede e do Endeavor Research.
Prepare um plano e um pitch
Fazer contatos não é algo que acontece por acaso. “Tem que haver uma intencionalidade no networking”, explica Deh Bastos, publicitária e palestrante especializada em empreendedorismo feminino. Ela orienta traçar um plano com objetivos e prazos para alcançá-los. Também vale criar e ensaiar o que dizer ao se apresentar a outra pessoa – ou “fazer um pitch”, uma fala rápida sobre sua empresa e seus objetivos. “Esteja sempre preparada, com discurso na ponta da língua, para não perder uma boa oportunidade de se conectar com pessoas interessantes”, ressalta Fontes. Um ingrediente que não pode faltar: o propósito do seu negócio. “É o que desperta interesse”, diz. Mas, se for para um potencial investidor ou parceiro, deve focar nos resultados.
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Abra espaço na agenda
O networking também é uma tarefa. Organizar a semana em um calendário – listando inclusive todos os compromissos pessoais – traz visibilidade de quais espaços estão livres para contatar alguém ou para pesquisar eventos interessantes. Encontrar essas brechas pode ser um desafio, especialmente para quem concilia o negócio com o cuidado da família. “A empreendedora deve buscar apoio na sua rede para ajudar com filhos ou pais e conversar com outras mães para entender como acham janelas na agenda”, avalia da Mata.
No caso de escassez de tempo, a dica de Lemos consiste em procurar o contraturno (aquele horário em que você não será solicitada) e apostar em atividades online, como mandar um e-mail ou buscar contatos em redes sociais profissionais. “Lembre-se: 15 minutos já é melhor do que nada”, afirma.
Explore canais digitais
Uma maneira de fazer novos contatos é pesquisar em redes sociais. Algumas são boas para encontrar pessoas que estão no mesmo ramo que você e que podem ser boas adições para uma rede de apoio; em outras, dá para identificar profissionais bem-sucedidos que, no futuro, podem ser seus orientadores. “Muita gente faz um convite via LinkedIn ou envia um e-mail explicando seu contexto para os potenciais mentores avaliarem se são os mais indicados para ajudar com o desafio”, explica Almeida.
Existem também canais digitais para fazer contato e acessar conteúdos gratuitos de capacitação – como o Sebrae Conecta e a B2Mamy, focada em mães que estão à frente de um negócio. Além disso, há plataformas de conexão, como a Rede Mulher Empreendedora, a Plataforma Mentorar e a Olhi.
Como fazer networking e achar os melhores mentores
Ilustração: Yasmin Ayumi
Entre na rede local
Explore a sua vizinhança para identificar mulheres que lideram negócios e descobrir se já existe algum tipo de encontro ou de evento para compartilhar experiências – vale checar também em associações comerciais e setoriais da região. “No coletivo, as mulheres têm mais diversidade de pensamento. Isso traz uma visão melhor do negócio”, pontua da Mata. Ela recomenda se aproximar das vizinhas e ouvir suas histórias, pois algumas podem servir de modelo. “Pergunte como ela começou e quais foram os desafios, as soluções, seus principais erros. É uma boa maneira de começar a alimentar uma rede de apoio.”
A comunidade local também pode se transformar em um espaço seguro para compartilhar dificuldades com franqueza e obter ajuda de quem passou pelas mesmas situações, avalia Lemos: “São pessoas que podem ajudar a empreendedora a participar de feiras locais ou divulgar o seu negócio no bairro”.
Aproveite os eventos presenciais
Para ampliar a rede de contatos, participe de feiras e eventos de empreendedorismo (feminino ou focado em um aspecto do negócio) – alguns estão listados em plataformas como Eventbrite e Sympla. “Programas de capacitação também são interessantes por reunirem uma rede de pessoas com o mesmo objetivo ou propósito. Isso gera conexões fortes”, pontua da Mata.
No palco ou na plateia, esses encontros presenciais permitem conhecer potenciais parceiros ou até mesmo mentores. “Sente-se em outro lugar após o intervalo para conhecer gente nova e converse com pessoas diferentes na hora do café”, sugere Fontes. “É o momento de deixar de lado a timidez e falar do seu negócio.”
Faça um mix de mentores
O networking leva empreendedoras a conhecer os mentores que acompanharão sua jornada. “É uma parceria para a vida toda”, diz Almeida. O primeiro passo é entender bem o que está em jogo. Depois, faça uma lista de pessoas com quem você gostaria de conversar. Para que elas realmente ajudem a superar diferentes desafios, pense em um mix diverso, com duas ou três pessoas, que pode (e deve) incluir homens.
“Escolha pelo menos uma pessoa bem diferente de você, para aproveitar outras vivências e pontos de vista”, comenta Bastos. O que esses mentores devem ter em comum é experiência comprovada, valores compatíveis com os seus e com o propósito do negócio, e a capacidade de falar francamente, mesmo quando for desconfortável.
Cheque se está dando certo
Uma maneira de saber se o networking e a mentoria estão fazendo o negócio progredir é listar os insights aproveitados. Quando as conversas trazem uma sugestão prática que pode ser aplicada ou testada, estão sendo produtivas. “O objetivo não é conhecer pessoas, e sim construir relações estratégicas para o crescimento”, afirma da Mata. Outra baliza são as métricas de negócio, como os resultados financeiros. Se o faturamento está aumentando ou se um investimento está dando retorno, avalie quanto disso está acontecendo por causa de novas conexões.
Também dá para saber se ele está funcionando quando você consegue estabelecer um contato frequente e construir conexões duradouras com as pessoas – e, assim, avançar nos objetivos. Lemos exemplifica: “Você sabe que acumulou capital social quando liga ou manda uma mensagem e as pessoas sabem quem você é”.
Onde buscar redes de apoio
B2Mamy: Comunidade digital focada em mães empreendedoras que incentiva o networking, oferece aulas de capacitação e promove eventos (custa a partir de R$ 79,99 por mês).
EventBrite e Sympla: Plataformas para buscar eventos de empreendedorismo (geral e focados em mulheres) e comprar ingressos.
Mentorar: Disponível online e em forma de aplicativo, a plataforma conecta empreendedores a mentores; a maioria deles oferece o serviço gratuitamente.
Olhi: Na seção “Negócios”, a plataforma traz uma série de opções para mentoria em diferentes áreas – desde contabilidade até mentoras de negócio; o valor do serviço depende do profissional e varia de R$ 22 (sessão de 15 minutos) a R$ 150 (uma hora).
Rede Mulher Empreendedora: Oferece, gratuitamente, mentorias e programas de capacitação que as incluem (como o Potência Feminina e o Ela Pode: Inteligência Artificial); também promove eventos de incentivo ao empreendedorismo feminino.
Sebrae Conecta: O site conecta empreendedores com parceiros que podem ajudar em diferentes aspectos do negócio, como fazer permutas e participar de um marketplace de serviços.
A reportagem foi publicada originalmente na edição de março de 2025 da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios.
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