Cachaça, delivery e ambiente familiar: Água Doce Sabores do Brasil chega aos 35 anos com mudanças no negócio
Com 82 unidade, rede faturou R$ 180 milhões em 2024 e pretende aumentar sua receita em 20% este ano De olho nas transformações no mercado de food service e na mudança do estilo de vida do consumidor, a Água Doce Sabores do Brasil chega aos 35 anos com uma reformulação do modelo de negócio que atende a quatro pilares: foco no delivery, reposicionamento da marca, entrada no varejo com produtos próprios e exportação de cachaças para o mercado internacional. Com isso, a empresa, que faturou R$ 180 milhões em 2024, pretende aumentar sua receita em 20% neste ano.
A rede foi fundada em 1990 por Delfino Golfeto, um ex-bóia-fria, em Tupã, no interior de São Paulo. Superando as dificuldades, Golfeto conseguiu se formar em Tecnologia de Açúcar e Álcool, e cursou pós-graduação em Gestão Empresarial.
Ao fundar a Água Doce, o empreendedor pretendia exaltar a cachaça, no entanto, o propósito se moldou com os anos e a rede se transformou em uma cadeia de 82 restaurantes com atendimento de mesa. A marca, que iniciou o franchising em 1993, ainda carrega características do início: a admiração do empreendedor pela bebida originou o Museu da Cachaça, que foi criado também em Tupã, em 2004.
A bebida, inclusive, é uma das protagonistas dos novos rumos da Água Doce: a marca iniciou o processo de exportação de duas cachaças autorais, a “Melzinho” e a “Senhor dos Pampas”. A primeira remessa foi enviada para a Coreia do Sul no final do ano passado e a expectativa é que a exportação represente pelo menos 15% do faturamento total no próximo ano.
“Queremos atender o Mercosul e o varejo brasileiro como um todo. Vamos aproveitar todo o nosso know-how e crescer com a exportação também”, afirma o diretor de franquias da Água Doce, Julio Bertolucci.
No mercado nacional, o plano é inaugurar 21 novas unidades neste ano, com foco nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Destas, 10 lojas serão no novo formato “Água Doce Delivery”, com foco em entregas e take away, de olho em cidades com mais de 60 mil habitantes.
A primeira unidade delivery está prevista para ser inaugurada em maio, em Maringá (PR), e será operada por um franqueado com 30 anos de atuação na rede. A franqueadora fornecerá o suporte técnico e usará o local como base para o projeto-piloto do formato. Outras seis franquias desse porte estão em negociação.
Além do formato, o cardápio é diferente: enquanto as unidades presenciais tem cerca de 800 itens no mix, o delivery tem um menu mais enxuto, com 80 opções, incluindo pratos como omeletes e estrogonofe — que não são vendidos nos restaurantes tradicionais. O tíquete médio estimado é de R$ 153 no delivery e R$ 120 no atendimento presencial.
“Nós estamos adaptando nosso cardápio, mas sempre com um toque nosso, das nossas especialidades. Então terá o escondidinho, a parmegiana, mas há opções para aqueles que desejam economizar”, diz o executivo.
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O projeto chegou a ser anunciado em 2021, mas foi engavetado. De acordo com Bertolucci, a franqueadora percebeu que precisava entender um pouco mais do mercado pós-pandemia — quando as demandas por refeições fora de casa ainda eram imprevisíveis.
“Já tínhamos toda a parte de estrutura, parceiros e embalagens, mas ainda precisávamos entender como desejaríamos essa expansão”, conta o diretor. “Focamos naquele momento no delivery das nossas franquias presenciais, até para não causar mal-estar na rede que desejava ser abraçada naquele momento e não ter novos formatos”, acrescenta.
Com isso, de 2021 para 2022, a participação do delivery no faturamento da rede aumentou de 5% para 35%. Hoje, 24% da receita total vêm de entregas e a expectativa é atingir 40% até o fim de 2025 com as novas 10 unidades. A maioria das unidades atuais da Água Doce estão em cidades de médio e pequeno porte. A Grande São Paulo, com apenas oito unidades, responde por 20% do faturamento da rede.
O investimento inicial para uma franquia Água Doce Delivery será a partir de R$ 600 mil, com retorno estimado pela franqueadora em 24 meses e lucratividade média entre 15% e 20%.
Reestruturação e novo posicionamento: mulheres no foco
Nos últimos dois anos, a empresa passou por um reposicionamento de marca, a partir de um estudo conduzido por uma consultoria externa. A comunicação, que antes não tinha um público-alvo, agora é direcionada para as mulheres, especialmente as com mais de 40 anos e mães. O objetivo, de acordo com Bertolucci, era transformar a experiência nas lojas, abandonando a estética semelhante à de bares e adotando ambientes mais familiares, com a inclusão de espaços kids e um cardápio mais voltado para esse público, com a ampliação da oferta de drinks e sobremesas.
A marca também fez modificações na identidade visual nas redes sociais, utilizando elementos mais delicados, por exemplo. “Decidimos não tentar agradar a todo mundo e construir uma comunicação pensando em nosso público-alvo. A mulher, por exemplo, é mais família, gosta de mesa farta, então temos uma comunicação mais pautada na afetividade e brasilidade”, afirma Bertolucci.
O reposicionamento também envolveu a adoção de novas tecnologias, como sistemas para otimizar processos operacionais e cardápio digital em vários idiomas, com informações nutricionais e alergênicos. Os espaços infantis também ganharam interatividade e tecnologia.
A empresa investiu cerca de R$ 6 milhões no processo de reposicionamento, que resultou, de acordo com o diretor de franquias, em um aumento de 25% no tíquete médio, saltando de R$ 90 para R$ 120 em dois anos.
“Quando um negócio como o nosso está há muito tempo no mercado, ele precisa provocar e incentivar o seu franqueado. Então muda-se o modelo de negócio, a comunicação e a forma de fazer gestão também”, diz.
De olho em um novo mercado
Segundo Bertolucci, a companhia pretende ampliar a receita de seus franqueados e marcar presença em novos canais. Desde 2022 a Água Doce Sabores está investindo em sua linha de produtos próprios. Hoje, a marca já conta com cerca de 30 itens, incluindo sais, temperos, farofas e drinks autorais. Mas a receita vinda dessa frente ainda é pequena: representa cerca de 2% do faturamento atual da rede.
“Além de oxigenar e proporcionar ao empresário da Água Doce uma via de aumentar as vendas das unidades, a linha de marca própria permitirá o posicionamento da rede no mercado varejista. Dessa forma, além de o cliente levar os produtos para casa, o próximo passo é ingressar em supermercados, a princípio de forma regional”, afirma.
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