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Bom momento do cinema nacional impulsiona pequenas empresas do setor

Bom momento do cinema nacional impulsiona pequenas empresas do setor


Reconhecimento internacional de “Ainda Estou Aqui” lota cinemas e renova a esperança de que essa indústria ganhe fôlego, com mais incentivos para se tornar equitativa e inclusiva O setor audiovisual brasileiro começou 2025 em clima de final de Copa do Mundo, com o país inteiro na comemoração de um feito inédito: a premiação de uma brasileira na categoria de Melhor Atriz no Globo de Ouro. A repercussão da vitória de Fernanda Torres por sua atuação em Ainda Estou Aqui, uma produção original Globoplay, impulsionou a bilheteria do filme, que já arrecadou mais de R$ 100 milhões, tornando-se a quinta maior da história do cinema nacional.
O reconhecimento internacional da produção se multiplicou. No início de fevereiro, conquistou o prêmio Goya 2025 de Melhor Filme Ibero-Americano e, até o fechamento desta edição, aguardava os resultados das indicações em três categorias do Oscar – Melhor Atriz, Melhor Filme e Melhor Filme Internacional. Exibido em mais de 20 países, também foi laureado em festivais no Canadá, na França e nos Estados Unidos.
Esse feito não só lotou as salas de exibição como renovou a esperança de que essa indústria, essencial para a economia criativa, ganhe novo fôlego para desenvolver seu potencial com mais equidade e inclusão. Relatório da Motion Picture Association (organização que representa os principais estúdios de cinema dos Estados Unidos e de outros países) em parceria com a consultoria global Oxford Economics, publicado em 2022 e com base em dados de 2019, revela que o setor movimenta R$ 56 bilhões no Brasil.
O mercado audiovisual concentra 11.342 pequenas e médias empresas e é impulsionado por novas tecnologias. Além disso, plataformas digitais e redes sociais têm transformado a forma como as pessoas consomem produções. “A demanda por conteúdo original e de alta qualidade continua a crescer”, diz Carolyne Gomes, coordenadora de Economia Criativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio de Janeiro (Sebrae-RJ). Ela alerta os empreendedores do setor que, para se manterem competitivos, é essencial acompanhar as tendências e investir em qualidade, inovação e capacitação.
A vocação brasileira, aclamada mundialmente há décadas graças à exportação de telenovelas, parece redobrar sua potência no cenário atual. Um estudo encomendado pela Netflix à consultoria Deloitte estimou os impactos econômicos do setor audiovisual em quatro países da América Latina: Argentina, Brasil, Colômbia e México. Foram analisados três tipos – direto, indireto e induzido –, com base em dados de 2021 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e de órgãos de pesquisa, incluindo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O país obteve o segundo melhor desempenho. A análise avalia as interações de uma indústria com as demais áreas econômicas. O Brasil apresentou um multiplicador de 2,935, o que indica efeitos positivos significativos, embora ligeiramente inferiores aos da Argentina. “Para cada dólar gasto, o retorno total na economia é de US$ 1,60 a US$ 1,90”, explica Carolina Verginelli, sócia da consultoria Deloitte Brasil. “É um setor que não beneficia apenas grandes empresas: traz para a cadeia, por exemplo, a pessoa física que faz a montagem do cenário, e há um fomento à economia local, que contribui diretamente para o desenvolvimento regional.”
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Desigualdades

São muitos os desafios do setor, entre eles a evidente necessidade de ampliar a participação feminina nas tomadas de decisão. “Não só no audiovisual, mas em outras áreas da cultura, ainda predominam homens na direção”, observa Kety Fernandes Nassar, coordenadora do Núcleo de Criação e Plataformas do Itaú Cultural.
Com o objetivo de superar desigualdades, chamadas de fomento à produção cultural nas esferas federal, estadual e municipal têm adotado métodos de seleção que garantem uma porcentagem para propostas de minorias de gênero e étnicas.
“Ainda não temos um setor em que a gente possa falar que existe equidade [entre gêneros]”, avalia Lyara Oliveira, presidente da Spcine (empresa pública vinculada à Secretaria de Cultura e Economia Criativa da cidade de São Paulo). Desde 2019, os editais da instituição adotam ações afirmativas para ampliar o incentivo às mulheres. “Em 2024, a participação feminina em cargo de direção nos projetos contemplados [pela instituição] beirou 45%, dentro de uma lógica nacional em que não passa de 30%”, pontua.
A regionalização da atividade é outro ponto de atenção. Segundo dados da Ancine, a Região Sudeste concentra mais da metade (7.054) dessas produtoras, enquanto Sul e Nordeste quase empatam, com 1.548 e 1.542 negócios, respectivamente. Estima-se que esse mercado gere 657 mil empregos (diretos, indiretos e induzidos) – veja outros dados do setor às págs. 42 e 43.
Nas próximas páginas, especialistas analisam as oportunidades e os desafios nas áreas de produção, distribuição/exibição e conteúdos para TV aberta, TV paga, vídeo por demanda e streaming. Além disso, seis empresárias compartilham suas conquistas e suas superações no mercado audiovisual.
Linha do Tempo
Histórico de fomento ao mercado audiovisual brasileiro
– 1991: Lei Rouanet, a primeira de incentivo à cultura
– 1993: Lei do Audiovisual, que cria mecanismo de fomento ao setor
– 2001: A Agência Nacional do Cinema (Ancine) é criada por Medida Provisória | Medida Provisória Cota de Tela, que determina que, no mínimo, 30% dos filmes exibidos sejam de produção nacional
– 2006: Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) torna-se uma categoria específica do Fundo Nacional da Cultura, destinado ao desenvolvimento da indústria audiovisual no Brasil
– 2020: Lei Aldir Blanc destina R$ 3 bilhões em recursos emergenciais a artistas, coletivos, espaços culturais e instituições que tiveram suas atividades impactadas
– 2021: Expira a Cota de Tela, que tinha prazo de 20 anos
– 2022: Lei Paulo Gustavo, o maior investimento direto já realizado no setor cultural do Brasil (R$ 3,862 bilhões)
– 2024: Lei de Cota de Tela retoma os planos propostos na Medida Provisória de 2001
Bilheteria em alta em 2025

Dados de 2/1 a 12/2 nas salas de cinema
Fontes: Agência Nacional do Cinema (Ancine), órgão regulador do setor audiovisual no Brasil, com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério do Trabalho e Previdência Social, Ministério da Economia e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
PEGN
– R$ 325,88 milhões de renda
– 32,6% da exibição em salas de cinema são de obras brasileiras
Fontes: Agência Nacional do Cinema (Ancine), órgão regulador do setor audiovisual no Brasil, com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério do Trabalho e Previdência Social, Ministério da Economia e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
PEGN
* Novos registros de Pessoas Jurídicas deferidos no ano ** Não divulgado – Fontes: Agência Nacional do Cinema (Ancine), órgão regulador do setor audiovisual no Brasil, com informaçõ es do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério do Trabalho e Previdência Social, Ministério da Economia e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
PEGN
Fontes: Agência Nacional do Cinema (Ancine), órgão regulador do setor audiovisual no Brasil, com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério do Trabalho e Previdência Social, Ministério da Economia e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
PEGN
Fontes: Agência Nacional do Cinema (Ancine), órgão regulador do setor audiovisual no Brasil, com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério do Trabalho e Previdência Social, Ministério da Economia e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
PEGN
Fontes: Agência Nacional do Cinema (Ancine), órgão regulador do setor audiovisual no Brasil, com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério do Trabalho e Previdência Social, Ministério da Economia e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
PEGN
Fontes: Agência Nacional do Cinema (Ancine), órgão regulador do setor audiovisual no Brasil, com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério do Trabalho e Previdência Social, Ministério da Economia e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
PEGN
Fontes: Agência Nacional do Cinema (Ancine), órgão regulador do setor audiovisual no Brasil, com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério do Trabalho e Previdência Social, Ministério da Economia e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
PEGN
Fontes: Kantar Ibope Media, Finder/Relatório Streaming Global e Deloitte Brasil
PEGN
– O Brasil é o país que mais consome streaming na América Latina
– 65% dos adultos brasileiros possuíam serviço de streaming em 2021, enquanto a média global é de 56%
– Efeito multiplicador: Cada US$ 1 investido no setor audiovisual retorna à economia brasileira multiplicado, de US$ 1,6 a US$ 1,9
Encontre incentivos

Leis de fomento e editais culturais podem impulsionar pequenas e médias empresas na captação de recursos para projetos de maior escala. Há financiamento disponível para diversas etapas, desde pesquisa, roteirização, produção e finalização de obras até festivais, mostras e atividades de formação.
A Lei do Audiovisual tem seus recursos liberados pela Ancine. Para acessá-los, é necessário registrar-se e apresentar a proposta no Sistema Ancine Digital (SAD). A empresa deve atuar em produção cinematográfica, de vídeos e de programas de televisão não especificados anteriormente (CNAE 59.11-1/99) ou em estúdios cinematográficos (5911-1/01).
A legislação contempla a produção de longas, médias e curtas-metragens, minisséries, obras seriadas, programas de televisão com caráter cultural ou educativo e telefilmes. Também engloba festivais, distribuição, preservação de acervos e infraestrutura técnica. Pessoas físicas e jurídicas patrocinam os projetos aprovados e podem abater os valores no Imposto de Renda.
Para utilizar a Lei Rouanet, a inscrição deve ser feita no Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (Salic). A compatibilidade da atividade econômica com o projeto continua sendo um critério fundamental. O período de inscrição costuma ocorrer de fevereiro a outubro, com um processo seletivo que pode se estender por meses. Grandes empresas, como BNDES, Cielo, Petrobras e Vale, frequentemente apoiam projetos culturais pré-aprovados.
As leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo, mais recentes, destinam recursos a estados e municípios, que por sua vez desenvolvem editais considerando as realidades locais. O cadastro no Mapa Cultural da cidade é um requisito para obter o fomento. Os montantes variam conforme a região, com valores mais altos em localidades economicamente mais estruturadas. Na edição de 2023 da Lei Paulo Gustavo, por exemplo, São Paulo recebeu R$ 357 milhões, enquanto Roraima contou com R$ 19 milhões.
Terror cor-de-rosa

A paulistana Laura Reis, 21 anos, formou-se em direção cinematográfica pela Academia Internacional de Cinema (SP), no ano passado, e já acumula dois feitos pouco comuns para alguém da sua idade: tornou-se microempreendedora individual (MEI) e lotou uma sala de exibição com o seu primeiro curta-metragem, Cereja do Bolo.
O “filme de terror cor-de-rosa”, como ela define, angariou uma legião de fãs nas redes sociais. A estreia foi no festival canadense Horror Underground Film, em que conquistou o prêmio de Melhor Direção de Arte. Em dezembro de 2024, foi a vez de levar de novo Melhor Direção de Arte, além de Júri Popular, no Filmworks Film Festival, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo.
Gravada no final de seu curso, a produção se destaca pelos visuais hipercoloridos. Foram dois anos de trabalho entre a ideia e a primeira exibição. A captação de recursos foi o maior desafio. De forma independente, ela criou e vendeu merchandising para alcançar o orçamento, arrecadando R$ 11.480 em uma campanha de financiamento coletivo.
A cereja do bolo foi não trabalhar com atores homens. “O terror é um gênero cinematográfico famoso por subestimar cineastas mulheres, então quis um elenco 100% feminino”, justifica. “A produção tem camadas sociopolíticas e ambientais em seu enredo, e é uma história que só poderia ser contada por uma garota.”
Assim, a obra, diz, é um reflexo de como foi a sua saída da infância e a entrada na vida adulta. “Querer pertencer, abandonar as bonecas, andar juntas para se proteger, quebrar padrões comendo bolos com as mãos. Maquiagens cada vez mais excêntricas e a constante ânsia de ter sua criança interior sempre ao seu lado.”
Soprando a velinha do sucesso, Reis faz um pedido pela valorização do cinema nacional independente: “Meu desejo é que sair de casa pra lotar salas de exibição com filmes nacionais seja parte da nossa cultura”.
Mulheres em rede

“Mulheres Luz é um manifesto de afeto, um movimento em rede.” É assim que a fotógrafa Mônica Maia, 61 anos, define seu atual projeto, iniciado em 2020, durante o período de isolamento social: uma plataforma que reúne 400 profissionais do audiovisual.
O recurso veio da primeira edição da Lei Aldir Blanc, sancionada como resposta à pandemia de covid-19. À época, a paulistana conta que se viu trancada com seus livros e percebeu que era chegada a hora de tirar da gaveta uma ideia, que há muito postergava, de mapear a participação feminina na fotografia.
“O tempo que dediquei ao fotojornalismo foi uma época em que havia muitas mulheres produzindo imagens, mas elas nunca estavam nos livros. E quando eu tentava entender o motivo sempre ouvia, geralmente de um homem, que ele não conhecia ou não se lembrava de nenhuma mulher fazendo o trabalho”, recorda.
O fomento cultural foi a chance de virar o jogo. Assim nasceu a rede de fotógrafas e mulheres de imagens, formatada como uma plataforma de acesso online. Nela, é possível localizar facilmente diferentes perfis: curadoras, diretoras, diretoras de arte, editoras, finalizadoras, fotógrafas, profissionais de áudio, roteiristas e tratadoras, tornando possível montar equipes 100% femininas.
“Comecei com a fotografia, e então ampliamos até abraçar o vídeo. Hoje o intuito é acolher mulheres de toda a cadeia do audiovisual”, relata.
Para quem quiser integrar a rede, basta acessar mulheresluz.com.br, clicar em “faça parte” e preencher algumas informações. Um grupo de WhatsApp permite trocas diárias e compartilhamento de oportunidades. A meta para 2025, diz Maia, é chegar a 2 mil mulheres.
5 CAMINHOS PARA UM CRESCIMENTO EXPONENCIAL ATÉ 2030
1 – Com um incentivo de US$ 25 milhões, os gastos no setor audiovisual poderiam atingir US$ 730 milhões (R$ 3,65 bilhões)
2 – Se o incentivo aumentar para US$ 100 milhões, os gastos podem chegar a US$ 1,03 bilhão (R$ 5,15 bilhões)
3 – Caso o governo implemente um incentivo federal ilimitado, poderá impulsionar gastos totais de US$ 17,05 bilhões (R$ 85,24 bilhões) em diferentes bens e serviços na economia brasileira
4 – Em 2030, os gastos totais anuais no setor de produção audiovisual poderiam alcançar US$ 3,62 bilhões (R$ 18,08 bilhões), representando um aumento de 200% em relação a 2021
5 – Desse total, US$ 1,42 bilhão (R$ 7,1 bilhões) seria diretamente atribuído a gastos com a produção audiovisual em si, destacando o impacto direto e significativo que esses incentivos teriam no setor, com efeitos positivos em toda a economia
Fonte: consultoria Olsberg SPI
PRODUÇÃO
– Desenvolvimento: roteiro, pesquisa/referências, captação de recursos e planejamento
– Pré-produção: direção de arte, casting, locações, equipe técnica e logística
– Produção: direção, fotografia, som, continuidade e produção executiva
– Pós-produção: montagem/edição, efeitos visuais, correção de cor, mixagem/edição de som, finalização e exportação
Da imaginação à ação

São as produtoras que dão vida a projetos audiovisuais, da concepção à finalização. O segmento é amplo e inclui desde criações para cinema, televisão e internet até nichos especializados, como conteúdos corporativos, educativos e videoclipes.
Historicamente concentradas no eixo Rio-São Paulo, elas têm se multiplicado de forma regional. Esse movimento acompanha mudanças nos critérios de distribuição de incentivos culturais, que vêm adotando mecanismos de descentralização de recursos.
Avanços tecnológicos geram uma demanda permanente por novos modos de criar e distribuir, e a necessidade de atualização dialoga com o desafio por mais equidade de gênero.
“Percebo uma ampliação significativa da atuação das mulheres em diversos campos do audiovisual brasileiro, principalmente nas frentes de produção executiva e de distribuição”, diz Fernandes Nassar, do Itaú Cultural.
“Há atividades, como direção, que ainda precisam de um equilíbrio maior”, pontua, ressaltando que programas de formação em audiovisual podem contribuir para mais equidade. “São um fator importante de crescimento e proporcionam o caminho para a tomada de decisão a partir do olhar feminino.”
A relevância econômica do audiovisual se estende a diversas frentes, destaca Verginelli, da Deloitte Brasil. “Há o impacto direto sobre os fornecedores do setor, que é, por exemplo, a contratação de uma empresa de filmagem por uma produtora para fazer um filme”, exemplifica. “E há, por sua vez, o impacto indireto, como a compra de tecido por uma empresa de moda contratada para confeccionar o figurino.”
Animação corporativa
Motion Design – Na Thanks for sharing, Simone Cyrineu faz vídeos com storytelling de grandes marcas e fatura mais de R$ 1 milhão
Juliana Frug
Em 2017, Simone Cyrineu, hoje com 39 anos, fundou a Thanks for Sharing, uma produtora especializada em vídeos motion design (animação gráfica para comunicação visual) voltada ao mercado corporativo. Usando animação 2D, a empresa combina design e storytelling “para traduzir mensagens complexas em narrativas envolventes e eficazes, desenvolvendo conteúdo audiovisual estratégico”, explica.
O diferencial é um modelo de negócio que une escala e personalização: “Oferecemos soluções com escopos, prazos e investimentos predefinidos, sem perder a flexibilidade de adaptação à identidade e à necessidade de cada marca”. Isso é possível, segundo ela, “graças a um fluxo de trabalho estruturado com metodologia ágil, aliado a tecnologias e automações que garantem entregas eficientes, assertivas e com alto nível criativo”.
Com faturamento superior a R$ 1 milhão no último ano e um portfólio de clientes que inclui Braskem, Electrolux, General Motors, KingHost e Porto Seguro, Cyrineu observa que o audiovisual voltado ao mercado corporativo costumava ser visto como uma das áreas menos dinâmicas e criativas do setor: “A crescente demanda por comunicação visual transformou esse cenário. Os vídeos passaram a ocupar uma posição central na comunicação das empresas”.
DISTRIBUIÇÃO E EXIBIÇÃO
– Agregadores e distribuidores digitais
– Exibições comunitárias e educacionais
– Festivais e mostras
– Janelas de exibição
– Licenciamento e direitos
– Marketing e publicidade
– Salas de cinema
Tela sem fronteiras

Finalizado o curta, o longa ou a série, começa um novo desafio: garantir que alcance o público. Assim como aconteceu em diversos setores, a internet revolucionou a distribuição e a exibição de conteúdos audiovisuais, ampliando o acesso e rompendo fronteiras antes intransponíveis.
“É clara a mudança na cadeia de distribuição com as novas possibilidades”, comenta Fernandes Nassar, do Itaú Cultural. “Agora, os festivais acontecem para além dos seus territórios físicos”, exemplifica.
Para ela, a formação de público se tornou ainda mais potente: “Chega-se com mais facilidade a lugares que antes teriam pouco acesso às novas produções, seja por falta de salas de exibição, seja porque ficavam restritas aos blockbusters [produções de grande apelo comercial]”.
Festivais e mostras presenciais, tradicionalmente utilizados para a circulação de lançamentos, passaram por transformações e hoje acontecem de maneira mais diversa e regionalizada. Alguns são voltados para categorias específicas, como animações e curta-metragens, enquanto outros destacam a produção local. Um exemplo é a curadoria dedicada ao audiovisual dos estados da Amazônia Legal, parte do Festival de Cinema da Amazônia – Olhar do Norte, realizado em Belém (PA).
Nos últimos cinco anos, cresceram também eventos dedicados à diversidade étnica e de gênero. O Recifest – Festival de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero, em Recife (PE); a Mostra Itinerante de Cinemas Negros – Mahomed Bamba, em Salvador (BA); e o Festival de Cinema e Cultura Indígena, em Brasília (DF), são alguns dos eventos que ampliaram a representatividade nas telas.
Difusão inclusiva
Com a Rosários Produções Artísticas, a baiana Daiane Rosário realiza desde 2018 a Mostra Itinerante de Cinemas Negros – Mahomed Bamba (MIMB), em Salvador
Luciana Sposito – Assistente de Fotografia: Vlamir Marques dos Santos – Agradecimentos: Kinoplex e Kinda Rodrigues
A baiana Daiane Rosário, 33 anos, fundou a Rosários Produções Artísticas em 2011, como Microempreendedora Individual (MEI), para prestar serviços a emissoras de TV e produtoras de cinema. De lá para cá, o negócio ganhou asas e, em 2019, virou microempresa. A empresária se tornou referência nacional em difusão inclusiva, realizando desde 2018 a Mostra Itinerante de Cinemas Negros – Mahomed Bamba (MIMB), que acontece em Salvador (BA), com sessões de cinema, formações e ações culturais que alcançam áreas periféricas.
Graduada em cinema e mestranda em cultura e sociedade, ela conta que a mostra é fruto de um processo coletivo com a participação de outras cineastas. Juntas, abriram novas janelas de exibição dedicadas exclusivamente ao cinema negro, um espaço até então inexistente no Brasil.
Ofertar cursos técnicos a populações historicamente excluídas está no cerne das atividades da produtora. “A principal preocupação é pensar difusão e preparação de profissionais negros, indígenas e quilombolas. Formamos para o mercado e articulamos conexões com players”, diz. Desde 2024, a programação da MIMB inclui uma sessão de mercado, o Mercamimb.
A receita anual de R$ 600 mil ainda é uma cifra modesta se considerado tudo que precisa ser feito. “É um faturamento circular que vai integralmente para a execução da mostra e dos laboratórios”, afirma.
TV ABERTA
– Emissoras e redes de TV
– Produtoras de conteúdo
– Agências de publicidade e merchandising
– Distribuidoras de conteúdo
– Sindicagem e licenciamento
– Infraestrutura técnica
– Interatividade e novas mídias
Frescor criativo

Rainha absoluta das salas de estar a partir dos anos 1950, a antiga TV de canais abertos ganhou concorrentes nos lares brasileiros no final do século passado. Para Lika Rosá, do Senac, as transformações nos meios de comunicação nas últimas décadas abriram espaço para novos modelos de informação e entretenimento.
“A concorrência com as plataformas digitais impulsionou a renovação de conteúdos e formatos”, explica. Com isso, grandes emissoras passaram a investir em produções originais, interatividade e propostas que tragam “frescor criativo”.
Flavia Rocha, da Academia Internacional de Cinema, enfatiza que o mercado de audiovisual é “vivo e dinâmico”. Segundo ela, sob o ponto de vista dos negócios, isso estimula o crescimento do setor, tornando-o mais competitivo e gerando uma demanda maior por conteúdo – “o que acaba beneficiando pequenas empresas e produtores independentes, que encontram mais canais para distribuir seus trabalhos”.
Para quem busca encaixar suas obras na programação da TV aberta ou por assinatura, uma boa estratégia é acompanhar as chamadas rodadas de negócios ou sessões de mercado, que oferecem a chance de reuniões com grandes players nacionais e internacionais.
As conversas costumam ser rápidas, exigindo preparo para apresentar a ideia de forma eficiente – em alguns casos, em até 20 minutos. Um dos principais encontros da economia criativa no Brasil, o Rio2C reúne anualmente os maiores nomes do segmento no Rio de Janeiro. Em sua edição de 2024, gerou 1.239 rodadas de negócios e contou com a participação de Globo, EBC, Grupo Bandeirantes, SBT e TV Cultura, entre outras organizações.
Sons e imagens da Amazônia
DA FLORESTA – À frente do Grupo Paraense Clarté e Marahu, Tayana Pinheiro faz produções para TV e oferece formação em audiovisual socioambiental
Aryanne Almeida
Diretamente de Belém (PA) e à frente do Grupo Clarté e Marahu, do qual é sócia-fundadora, a publicitária e assistente social Tayana Pinheiro, 35 anos, tem levado ao mundo a cultura da Amazônia traduzida em som e imagem.
O grupo atua em duas frentes: a Clarté se dedica a produções de publicidade e branded content (conteúdo patrocinado), enquanto a Marahu foca em obras para TV e cinema, além de oferecer formação em audiovisual socioambiental.
Seu catálogo reúne filmes, séries e documentários transmitidos em canais abertos como Futura e TV Brasil, e nos pagos GNT e Travel Box Brazil, todos com a temática amazônica. Dessas, a empreendedora destaca Sabores da Floresta, que acaba de estrear a segunda temporada e teve a primeira licenciada para nove países, e o telefilme de ficção Vatapá ou Maniçoba, uma coprodução com a Globo Filmes.
O faturamento do grupo gira em torno de R$ 2 milhões, com planos de expansão para este ano. Pinheiro comemora o impacto do negócio no arranjo produtivo regional: “O grupo gera empregos diretos e indiretos em toda a sua cadeia, fomentando a economia local com a contratação de transporte, alimentação e insumos diversos. Movimentamos desde trabalhadores da construção, para a montagem de cenários, até profissionais da moda, responsáveis pela confecção de figurinos”.
TV PAGA
– Operadoras de TV paga
– Canais de TV fechada
– Produtoras de conteúdo
– Distribuidoras de conteúdo
– Agências de publicidade
– Empresas de tecnologia
– Serviços de TV Everywhere
Nichos emergentes

É com a chegada da TV por assinatura nos anos 1980 que a TV aberta ganha concorrência. A regulamentação desse sistema de transmissão foi autorizada pelo governo federal em 1989, e os primeiros canais disponíveis aos brasileiros foram o Canal +, a CNN e a MTV.
Na TV paga, diversidade e segmentação de canais tornam-se mais evidentes a partir de 2011, com a criação da Lei 12.485, que “determina que os canais [nacionais e estrangeiros] reservem três horas e trinta minutos por semana, no horário entre 21h e meia-noite, para a exibição de produtos audiovisuais criados, planejados, executados e finalizados por produtoras brasileiras ou majoritariamente brasileiras”, pontua Lika Rosá, do Senac. Com isso, avalia ela, houve uma ampliação no campo de trabalho dentro do mercado audiovisual e um impulso no surgimento de novos canais especializados, nos quais os espectadores passam a encontrar conteúdos de interesses específicos.
Sobre as oportunidades de fomento ao setor televisivo, embora a Ancine categorize separadamente a TV aberta e a TV paga, ambas podem servir como porta de entrada para a exibição de obras audiovisuais. “A divisão é um ponto de partida útil para fins de análise e regulação, mas é necessário complementá-la com uma visão mais abrangente e flexível, que reconheça a complexidade e a dinâmica do mercado brasileiro”, analisa Carolyna Gomes, do Sebrae-RJ.
Ela destaca que pequenas e médias empresas, com frequência, atuam em múltiplas frentes, incluindo produção, distribuição e até mesmo exibição, e o cenário atual “exige uma compreensão de perfil dinâmico e interconectado”. Acompanhar rodadas de negócio e sessões de mercado são atalhos de parcerias.
Os muitos Brasis
SEGUNDA TEMPORADA – A pernambucana Rosa Melo lidera a Brasil Visual, microempresa que tem como carro-chefe a produção de série homônima dedicada às artes visuais no Canal Curta!
Divulgação
Há 15 anos, a pernambucana Rosa Melo, 52 anos, decidiu se retirar do seu estado natal rumo ao Rio de Janeiro. O objetivo era conseguir um lugar ao sol no mercado audiovisual nacional. No Nordeste, sabia ela, as chances seriam menores: “Chega a ser uma competição injusta ter de sair de onde você vivia para abrir espaço no Sudeste sendo nordestina”.
A caminhada foi longa, diz, mas o plano deu certo. Hoje, ela lidera a microempresa Brasil Visual, especializada em serviços de gestão de projetos cinematográficos e artísticos. O grande impulso veio com a produção da série homônima, dedicada às artes visuais brasileiras, atualmente em sua segunda temporada exibida pelo Canal Curta!.
A produção nasceu da premissa de que a arte contemporânea poderia ser mais conhecida pelos brasileiros. Embora esse campo artístico se expanda exponencialmente, a conexão com o público parecia precária a Melo. Considerando a TV um dos meios mais eficazes de comunicação no Brasil, ela apostou na exibição televisiva como instrumento formador de novas plateias.
Alargar o faturamento anual, que fica entre R$ 2 milhões e R$ 2,5 milhões, segue sendo um desafio. “Só para se ter uma ideia, cerca de 200 pessoas foram envolvidas na realização das duas temporadas da série, dos técnicos aos entrevistados”, pontua a empreendedora. “A corrida por recursos é eterna porque o custo de uma produção audiovisual é sempre muito alto.”
VÍDEO POR DEMANDA
– Produção de conteúdos para consumo individual ou de um grupo específico
– Venda e aluguel de mídias físicas para regiões com internet limitada
– Venda e aluguel de mídias digitais
– Edições especiais e colecionáveis
– Exibições sob demanda
– Parcerias com plataformas de streaming
Para ver no sofá

Vídeo doméstico ou vídeo por demanda (do inglês VoD, video on demand) são termos usados para categorizar conteúdos que podem ser assistidos em casa. Dispensam a necessidade de deslocamento para uma experiência presencial em espaços como salas de cinema ou cineclubes. Em um passado não tão remoto, o segmento acomodou, por exemplo, as locadoras de mídias como DVD ou Blu-ray, hoje quase obsoletas.
A popularização da internet e o surgimento de meios de exibição redefiniram o rumo do segmento. Assim, a procura por assistir a um título desejado no conforto do sofá se alargou e ganhou novas roupagens, levando à reorganização do mercado.
Atualmente, locação e compra de obras já podem ser feitas via plataformas de streaming como Amazon e YouTube, entre outras, mediante pagamento de taxas. As transformações seguem em curso e geram novos tipos de oportunidades para as empresas de pequeno e médio portes.
“O vídeo por demanda criou novos hábitos e a possibilidade de poder assistir, a qualquer hora e em qualquer lugar, a um vasto catálogo de produtos. Gerou mudanças nas dinâmicas de consumo de mídia, incentivando a produção de séries e filmes e ampliando a competitividade das plataformas para atrair a atenção dos assinantes”, comenta Rosá, do Senac.
O futuro, defendem especialistas, é ainda mais promissor. “Estamos em plena recuperação pós-pandemia e ainda existem muitos desafios a serem superados. O setor de audiovisual vem crescendo ano a ano dentro desse processo de recuperação”, observa Lyara Oliveira, da Spcine.
Alma originária
TERRITÓRIO – Foi na Terra Indígena Pankararu, em Jatobá, no sertão pernambucano, que a sul-matogrossense Graciela Guarani abriu a produtora Olhar da Alma
Divulgação
Natural do Mato Grosso do Sul e pertencente à nação Guarani-Kaiowá, foi na Terra Indígena Pankararu, mais precisamente no município de Jatobá, no sertão pernambucano, que Graciela Guarani, 38 anos, abriu a produtora Olhar da Alma.
Ela dirigiu e roteirizou filmes como Opará, Morada de Nossos Ancestrais e liderou a produção de Nhemongueta Kunhã Mbaraete, vídeo-cartas entre mulheres indígenas durante a quarentena de 2020, exibida no canal do Instituto Moreira Salles no YouTube. Na voz dela, ecoaram outras de parentes durante a mesa redonda sobre Mulheres na Mídia e no Cinema na 70ª edição do festival alemão Berlinale. E a codireção do longa My Blood Is Red, disponível ao público norte-americano pela Amazon, que redobrou a projeção internacional do seu trabalho.
“Atuamos no fortalecimento das comunidades e do próprio município, pois a empresa injeta recursos principalmente em mão de obra indígena de dentro das aldeias, contribuindo para a superação de um gargalo burocrático. Ainda é difícil entender que comunidades indígenas e tradicionais também possuem mercado”, lamenta. As cidades do entorno, diz, são beneficiadas ao fornecerem insumos como alimentação.
Assim vai se repartindo um faturamento que, pela primeira vez, chegou a R$ 1,1 milhão no último ano. “Estamos pleiteando mais, porém ainda em passos modestos.”
STREAMING
– Plataformas
– Agregadores de conteúdo
– Produtoras e estúdios
– Distribuidoras digitais
– Monetização
– Empresas de tecnologia
– Legendagem, dublagem e acessibilidade
Janelas de experimentação

No Brasil, o streaming (do inglês, transmissão ao vivo ou contínua) começou em 1996, em áudio, quando o cantor Gilberto Gil performou a música Pela Internet a partir de um escritório da Embratel, no Rio de Janeiro. O YouTube, hoje a plataforma mais utilizada no país, só apareceu uma década depois.  
Em ascensão, esse segmento protagoniza transformações no mercado audiovisual. “Com a liberdade de criar e experimentar conteúdos que talvez não fossem encontrados nas TVs aberta ou paga, os canais apresentaram novas criações, com vozes e histórias diversas para serem contadas”, observa Eliana Rosa, docente do Senac.  
Essa mudança não só ampliou as opções disponíveis, como também transformou o público e a forma de acesso ao conteúdo. Para pequenas e médias empresas, as plataformas representam um campo fértil para parcerias e licenciamento de obras. 
A regulação do setor, que visa estabelecer normas como a cobrança de taxas e a obrigatoriedade de conteúdo nacional, ainda está em tramitação no Congresso Nacional. Lyara Oliveira, presidente da Spcine, destaca que a instituição participa ativamente das discussões sobre a legislação. Além disso, já opera a plataforma Spcine Play, que considera um “instrumento de democratização de acesso” a conteúdos brasileiros. 
No âmbito federal, a futura plataforma Tela Brasil, prevista para este ano, promete ampliar ainda mais o acesso ao conteúdo nacional, com R$ 4,2 milhões investidos no edital de seleção de obras, todas de produção local.
Na roda da ciranda
MINIDOC – Sócia da D. Ledy Arte e Cultura, a gaúcha Lia Letícia vem conquistando premiações com o musical Dorme Pretinho, exibido no youtube
Priscilla Buhr – Agradecimento: Antiquário Antigo’s
Sócia da D. Ledy Arte e Cultura, fundada em 2011 em Recife (PE), Lia Letícia, 49 anos, vem conquistando premiações com o minidoc musical Dorme Pretinho, feito para a xará cirandeira Lia de Itamaracá. A obra, um recorte poético da infância da cantora e que navega pelo ofício das mulheres marisqueiras, é exibida no seu canal no YouTube, maior plataforma de streaming do mundo.
Além de atuar como diretora, a gaúcha fez da sua expertise em direção de arte para cinema um dos diferenciais da sua empresa: “Definimos a estética e a poética visual de forma a ajudar a contar a história do filme por meio de materiais concretos: objetos, cenários, figurinos, maquiagem e efeitos. E articulamos esses elementos com outros setores da produção, como fotografia, som, encenação, montagem e finalização”, explica.
O faturamento ainda oscila, a depender do volume de oportunidades de captação de incentivos culturais, mas a média anual tem ficado entre R$ 240 mil e R$ 280 mil. Nessa cifra entram também recursos destinados a projetos de artes visuais e atividades de formação: “Oferecemos cursos de direção de arte em mostras, festivais, escolas e entidades na capital pernambucana e em municípios do interior, a fim de ampliar e multiplicar o conhecimento tanto técnico quanto poético do cinema”, diz. A partilha de saberes gera reencontros nos sets de filmagem: “Já tive assistentes que foram meus alunos”.

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