Amigos vão juntos à mesma pizzaria há mais de 60 anos: ‘É uma maneira de nos mantermos unidos’
Henrique Martin, 83, e Olavo Ozzetti, 81, passaram a ir juntos para a Pizzaria Castelões quando estavam na faculdade, em 1963. Estabelecimento completou 100 anos de existência em 2024 Henrique Martin passou a frequentar a Pizzaria Castelões quando tinha apenas cinco anos de idade. “Meu pai me levava. Não sei exatamente como ele conheceu o Castelões, mas a pizzaria já era famosa. Era muito tradicional comer no Brás”, diz o paulistano de 83 anos. Então, quando já estava na faculdade, apresentou o estabelecimento ao amigo Olavo Ozzeti, hoje com 81 anos. A tradição começou em 1963 e segue firme até hoje.
Pelo menos uma vez por mês, Martin sai de sua casa no bairro de Alphaville, próximo à cidade de São Paulo, e busca Ozzetti em casa, no Panamby, zona Sul de São Paulo. Eles vão juntos para a pizzaria Castelões, no Brás, na Zona Norte. “Nunca deixei de ir e nem vou deixar. O caminho de Alphaville até o Castelões é longo. A ida e a volta somam cerca de 70 km. Mas eu vou. Sou viciado”, diz Martin.
Ozzetti concorda que sempre irá e acrescenta: “Ir até o Castelões ainda hoje é uma maneira de nos mantermos unidos”.
Fabio Donato, neto de um dos fundadores do Castelões, e os clientes Henrique Martin e Olavo Ozzetti
Divulgação
A Pizzaria Castelões surgiu em 1924 e é conhecida como a mais antiga pizzaria em funcionamento em São Paulo. O estabelecimento está sob comando de Fabio Donato, neto de Vicente Donato, um dos fundadores. O negócio vende 1.500 pizzas por mês, e oferece pratos da culinária italiana, como espaguetes e burratas.
Quando Martin começou a frequentar o estabelecimento, Vicente ainda estava na direção. “O João [pai de Fabio] era cerca de cinco anos mais velho. No começo um menino de 10 anos não queria ser amigo de um menino de cinco. Depois, quando eu tinha cerca de 20 anos, começamos a ficar mais amigos”, diz Martin, que também frequentava o estabelecimento quando João assumiu o negócio, em 1987. Fábio passou a integrar a empresa em 1988, aos 15 anos, e assumiu a gestão após a morte do pai, em 2014. A receita da massa continuou a mesma em todas as gestões.
“Nestes quase 80 anos que eu vou lá, consigo ver a passagem de gerações, tanto na gestão do Castelões passando de pai para filho, quanto dos clientes que indicam para seus familiares. Minha família é um exemplo: minha filha, meu genro e meu neto gostam. Isso mostra uma continuidade”, diz Martin.
Pizzaria Castelões, localizada no Brás, em São Paulo
Mauro Holanda
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Martin e Ozzetti começaram a ir juntos para o Castelões enquanto cursavam Engenharia Mecânica. “A cada 15 dias, nós íamos até lá com o nosso grupo de amigos. Normalmente íamos na quinta-feira à noite, quando a aula acabava mais cedo. Às vezes até convencemos o professor a ir com a gente comer uma pizza”, afirma.
Segundo Ozzetti, ele foi conquistado rapidamente pela pizza de mussarela. “Depois da faculdade, apresentei o Castelões para colegas de trabalho que também passaram a frequentar”, diz o cliente — que também apresentou o estabelecimento aos familiares.
Na visão dos amigos, as características do estabelecimento, que lembram uma cantiga italiana, são um dos diferenciais. “O ambiente é antigo, afinal são 100 anos de negócio. Mas é bonito por isso também”, afirma Martin. Ozzetti concorda: “o Castelões tentou fazer uma filial, mas não deu certo. Castelões é no Brás e não pode perder as características de uma cantina italiana, com a toalha xadrez, garrafas de vinho e linguiças penduradas”.
Fabio Donato diz que a relação com os clientes já ultrapassou o vínculo comercial. “Tornaram-se amigos, mas em alguns momentos são pais e avôs. São pessoas que torcem por você e ficam felizes de apoiar. Tudo o que acontece de bom nessa história de 100 anos parece que acontece com eles”, afirma. “É muito bom ver que esses amigos continuam do nosso lado, passando de geração em geração. É o maior legado do Castelões.”
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