‘Ajudar mulheres é criar um círculo virtuoso’
No Café com as CEOs, Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, ressaltou o efeito multiplicador do sucesso das donas de negócios na família e na comunidade Em 15 anos de existência, a Rede Mulher Empreendedora (RME), organização que capacita e dá mentoria a mulheres à frente de pequenos negócios, estima ter impactado 15 milhões de pessoas. Esse total vem do número de atendidas multiplicado por quatro, pois cada uma delas beneficia em média mais três familiares. “Quando as mulheres dão certo financeiramente, não investem nelas mesmas”, diz Ana Fontes, fundadora da RME. O resultado é positivo também para familiares, amigos e outras empreendedoras. “Ajudar mulheres é criar um círculo virtuoso.”
Fontes participou de uma conversa no Café com as CEOs, evento realizado nesta sexta-feira (11/4) pelo Valor, em parceria com Marie Claire, na sede do TikTok em São Paulo. A conversa foi conduzida por Mariana Iwakura, editora-chefe de Pequenas Empresas & Grandes Negócios.
O primeiro investimento da mulher é feito dentro de casa. “Se os filhos estudam em escola pública, ela os matricula em curso de inglês, aula de informática, qualquer atividade que possa melhorar a educação. Também investe no bem-estar da família: se já tem uma televisão, compra uma melhor”, diz Fontes. Depois, elas se voltam para a comunidade. “Isso contradiz um preconceito [de que mulheres competem umas com as outras]. O que mais vemos são mulheres que se unem para empreender. Tem a que faz salgados, a que faz bolos, a que cuida da decoração — Juntas, criam um negócio”, afirma a fundadora da RME. “Quando elas precisam contratar, priorizam outras mulheres. Ou seja, criam um ciclo de emprego e fortalecimento feminino.“
A necessidade de cuidar das pessoas ao seu redor é, inclusive, o que leva muitas mulheres ao empreendedorismo. A decisão é motivada pela flexibilidade que elas imaginam que terão, diz Fontes.
“Estamos falando da economia do cuidado — com os filhos, a família, idosos, pessoas doentes —, que infelizmente ainda recai majoritariamente sobre as mulheres”, afirma. “Para os homens, empreender está associado à realização e ambição. Para elas, à necessidade de conciliar tudo isso com a vida pessoal.”
A flexibilidade se torna desafiadora na prática, contudo. “Empreendedoras conseguem dedicar, em média, duas horas a menos por dia aos seus negócios do que os homens. Faz uma grande diferença”, diz Fontes. “Além disso, muitos companheiros dizem que apoiam o negócio, mas não se habilitam a cuidar dos filhos quando elas querem ir a um evento de networking, por exemplo.”
Os obstáculos podem ser agravados pelo mercado no qual elas empreendem — 70% atuam em áreas que podem ser chamadas de “domínio da mulher”, como beleza, moda, alimentação fora do lar e serviços. “Isso não é ruim, mas o verdadeiro desafio é encontrar uma boa oportunidade de negócio dentro dessas áreas. Caso contrário, o negócio não atrai clientes e o dinheiro não entra”, pondera Fontes, que lembra que 60% dos pequenos negócios fecham em até cinco anos de existência.
Saiba mais
Para a fundadora da RME, as soluções passam por capacitação, acesso a capital e apoio de outras mulheres. A rede, por exemplo, tem 900 mentoras cadastradas. “Sempre que uma mulher precisa de ajuda, acionamos essa rede para que uma mentora possa conversar com ela”, afirma. Hoje, a organização está presente em mais de 2 mil municípios. “A mentoria tem se mostrado uma das ferramentas mais valiosas e transformadoras — tanto para quem recebe quanto para quem oferece.”
As atividades da RME são financiadas pelo patrocínio de grandes empresas, que proporcionam o custeio das capacitações em diversos formatos, como eventos, vídeos e até mensagens de WhatsApp, além das doações realizadas diretamente a mulheres. Segundo a empreendedora, é fundamental que as corporações não recuem em suas ações de apoio à diversidade. “A nossa tendência, principalmente ouvindo todas essas coisas — como o presidente americano dizendo que não é para olhar para a diversidade, que é para tirar todas as questões de gênero e eliminar a pauta como um todo —, é se assustar”, diz.
“O desafio é manter a nossa posição firme. Mesmo que a gente não avance na proporção que gostaria, não pode haver retrocesso.”
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